Resumo

Esta pesquisa investiga a relação saúde-trabalho na atividade de professores de Educação Física em uma escola pública polivalente, com o objetivo de compreender como os docentes têm enfrentado as adversidades e nocividades cotidianas em prol da produção de saúde no trabalho. Para tanto se pauta na articulação Ergologia-Etnografia como arcabouço teórico-metodológico, sendo a Etnografia o ferramental metodológico no que tange à produção de dados e a Ergologia o mote de análise do trabalho. Aborda o conceito de Atividade e Trabalho do ponto de vista da Ergologia, portanto atividade como espaço das microgestões inteligentes que são produzidas no intervalo entre as normas antecedentes (prescrições, ordens, códigos, conceitos, saberes, valores) e o trabalho real. O trabalho é concebido como “usos de si por si e pelos outros”; expressão do jogo de valores e normas construídas, não em outro “lugar”, senão no âmbito dos locais de trabalho, do político, da sociedade. Adota o conceito de saúde “vitalista” de Georges Canguilhem, cuja compreensão rompe com o modelo médico-biologicista de atrelar normalidade à saúde por meio de padrões estatísticos e propõe que somente é possível conhecer a condição saudável quando os indivíduos são considerados em relação a seus meios e às suas potências de criar normas singulares capazes de tornar a vida “vivível”. Conclui que alguns valores, normas e prescrições que atravessam o trabalho dos professores de Educação Física têm colocado em operação modos de subjetivação que pressionam os professores a “trabalharem mal”, quando reduzem a autonomia, desvalorizam seus saberes e atribuem baixo valor simbólico à sua atividade. Por outro lado, mostra que os docentes lutam criando defesas contra o sofrimento e que, principalmente, por meio da atividade, renormalizam; criam regras, prescrições, normas; produzem saúde no trabalho. Compreendeu também esta pequisa que os saberes e “usos” mobilizadas pelos docentes ultrapassam o ideário pedagógico da disciplina Educação Física, o que permite afirmar que os professores engajam muito mais “de si” no trabalho do que as tarefas solicitam.

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