Resumo

Produções anteriores acerca da relação entre lazer e apropriação espacial urbana problematizaram a necessidade de compreender melhor o papel do poder público nos processos de apropriação espacial na dinâmica do lazer das cidades contemporâneas. Compreendendo que as relações sociais se realizam na forma de relações espaciais, a reflexão sobre a cidade se fundamenta necessariamente em uma reflexão sobre a prática sócio espacial, sobre o modo como a vida se realiza na cidade, enquanto formas e momentos de apropriação (CARLOS, 2004). A apropriação transforma a natureza em bens humanos, ela é a meta, o sentido e a finalidade da vida social (LEFEBVRE, 1978). O objetivo dessa investigação é refletir sobre a interferência do poder público nos modos de apropriação espacial urbana a partir do estudo das práticas de skate no Parque da Juventude. A investigação bibliográfica e documental possui natureza qualitativa e abordagem teórica. Consiste na revisão dos estudos sobre formas de apropriação do espaço urbano a partir da prática do skate, frutos do mestrado em Estudos do Lazer, publicados por Gomes e Couto (2013, 2013a, 2014, 2014b) e Scopel e Couto (2016). Além da análise das fontes documentais: edições antigas do jornal A Folha de São Paulo e da revista Cemporcento Skate Magazine; fotos e vídeos do arquivo pessoal de skatistas; sítios virtuais de entidades de gestão do skate; Decreto Nº 16.096, de 16 de agosto de 2007, que regulamenta a Lei Municipal que dispõe sobre a criação e denominação do Parque Cidade Escola da Juventude Città Di Maróstica (Parque da Juventude). A reflexão se deu a partir de referenciais teóricos e metodológicos inseridos na geografia crítica e no campo de estudos sobre lazer. Ao contrário da hipótese inicial de que a atuação do poder público limitou a apropriação daquele lócus de estudo. Os resultados mostraram que a atuação pública contribuiu para melhorar a qualidade das relações espaciais, não somente do Parque em questão, mas também na dinâmica social daquela região metropolitana do ABC Paulista - SP. Aquele equipamento, agora revitalizado e gerido publicamente, se configura como um incentivo ao lazer e ao esporte, um monumento histórico e cultural para os atores da história do skate naquele espaço e um marco na paisagem urbana, servindo de cartão postal da cidade. Após interferência do poder público houve um aumento em quantidade, diversidade e qualidade da apropriação daquele equipamento, gerando democratização do espaço. Reforçou e criou laços de identidade e cidadania principalmente para skatistas, mas também para a população em geral. Nessa apropriação espacial, destacam-se ainda os processos constantes de reequilíbrio de poder entre skatistas e gestão pública. Através dos métodos de negociação, skatistas aceitam determinações, não por serem alienados dos processos de produção espacial, mas por entenderem que isso garante a perpetuação, qualidade e desenvolvimento daquele equipamento e de suas práticas de skate. Confirmando que a omissão da iniciativa pública é pior que a intervenção, a primeira leva ao abandono, deterioração e segregação, a segunda atua como um dos fatores preponderantes para uma efetiva apropriação do espaço urbano nas cidades contemporâneas

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