Integra

RESUMO

O aumento significativo no número de profissionais de Educação Física que utilizam o esporte de aventura como recurso didático pedagógico nas escolas, provoca o surgimento de debates e reflexões sobre os riscos e os desafios para os seus praticantes. Simultaneamente, a referida discussão permite pensar no estabelecimento da relação entre a Educação Física Escolar, o Esporte de Aventura e as normas de segurança. Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo discutir a relação entre a Educação Física Escolar, o esporte de aventura, mais especificamente o Montanhismo, e os cuidados com as normas de segurança. Adotou-se como metodologia a revisão bibliográfica descritiva realizada nos periódicos Movimento, Motriz, Revista Brasileira de Ciência e Movimento e Conexões e por fim, os Anais do Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. A escolha de tais periódicos decorre da inserção destas revistas no campo da Educação Física. Como critério de inclusão instituiu-se artigos originais, publicados no período de janeiro de 2010 a julho de 2014. Os termos utilizados para busca foram Educação Física Escolar, Esporte de Aventura e normas de segurança. Foram selecionados 15 artigos que atendiam aos critérios de inclusão estabelecidos: 2 artigos na Revista Movimento e 2 na Revista Motriz. Dentre os artigos selecionados nenhum deles apresentava a escalada como foco de estudo.

Palavras chave: Educação Física Escolar, Esporte de Aventura, Normas de Segurança.

1 INTRODUÇÃO

O esporte, nas últimas décadas, tornou-se o conteúdo hegemônico das aulas de Educação Física, porém apenas algumas modalidades esportivas são eleitas pelos professores (BETTI, 1999).

Poli et al (2012) e Richter (2013) reiteram tal panorama mencionando que geralmente as aulas se concentram em esportes com bola (voleibol, basquetebol, futebol e handebol). Os autores ainda mencionam que há a necessidade de propor uma nova atividade nas aulas de Educação Física escolar, e uma opção são os Esportes Radicais.

Dias (2004) também ressalta a necessidade de repensar o tratamento pedagógico oferecido tradicionalmente a determinados conteúdos curriculares, no entanto o autor considera que não é tarefa fácil para nenhuma disciplina escolar, tampouco para a educação física escolar.

Com relação a este aspecto Gomes, Santos e Pereira (2012) comentam algumas dificuldades com relação a aceitação de atividades de risco na escola pelos pais, professores e diretores, sendo este um fator apontado como limitador para a inserção desta prática como conteúdo da Educação Física na escola.

Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir a relação entre a Educação Física Escolar, o Esporte de Aventura, mais especificamente o Montanhismo1 , e os cuidados com as normas de segurança.

Neste sentido cabe elucidar que neste ensaio consideramos, a partir da concepção do Ministério do Esporte, mais especificamente a Comissão de Esporte de Aventura, como esporte de aventura a prática corporal relacionada ao meio ambiente e desenvolvida sob condições de risco calculado (BRASIL, 2007).

Com relação ao conceito de segurança vamos trabalhar com a ideia - ABNT. NBR, 15331 (2006, p. 2) -, de que a segurança é a “isenção de riscos inaceitáveis de danos”.

Considerando tais noções cabe perguntar: Como proceder durante as práticas corporais de montanhismo nas ações pedagógicas com escolares? Como os docentes deverão seguir a normatização de segurança ou padrões de conduta para uma prática esportiva segura?

Partindo do referido pressuposto, consideramos ser recomendável o conhecimento de tais padrões de segurança, por parte de professores de Educação Física, por percebermos que os referidos profissionais podem estar relacionados a pratica do Esporte de Aventura.

Assim sendo, esse trabalho se justifica pelo aumento significativo no número de profissionais de Educação Física que se utilizam a referida prática esportiva como recurso didático pedagógico nas escolas ou como práticas em estabelecimentos que atuam no campo do Lazer (SCHWARTZ (2005); LUREANO (2012); LUIZ RUFINO (2012); SANTOS; GOMES; PEREIRA (2012); SILVA; RAMOS; PEREIRA (2012).

Para Schwartz (2005) tais práticas inovaram o campo do lazer e ao migrar para o contexto escolar e acadêmico, promoveram múltiplos movimentos exigindo debates acerca dessa prática corporal.

Neste sentido o escopo metodológico do estudo desenvolveu-se por intermédio da revisão bibliográfica, “por ela fornecer aos profissionais de qualquer área, informação sobre o desenvolvimento corrente da ciência e sua literatura” (FIGUEIREDO, 2004, p. 23).

Os artigos analisados emergem dos seguintes periódicos: Movimento, Motriz, Revista Brasileira de Ciência e Movimento e Anais do Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. A escolha de tais periódicos decorre da inserção destes no campo da Educação Física e Esporte de Aventura.

Como critério de inclusão instituiu-se artigos originais, publicados no período de janeiro de 2008 a março de 2014. Os termos utilizados para busca foram Educação Física, Esporte de Aventura e normas de segurança.

Foram selecionados 15 artigos que atendiam aos critérios de inclusão estabelecidos: dois artigos na Revista Movimento e dois na Revista Motriz, um artigo na Revista Conexão e 2 artigos na Revista Brasileira de Ciência e Movimento e 9 artigos nos Anais do VII Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. Dentre os artigos selecionados nenhum deles apresentava a escalada como foco de estudo: os dois artigos da Revista Motriz apresentaram o voo livre e o mergulho, respectivamente, como centralidade, e a Revista Movimento apresentou um artigo discutindo o surfe e o segundo o voo livre, o que justifica a produção do presente trabalho.

1 Montanhismo: Atividade de caminhada ou escalada praticada em ambiente de montanha. São considerados dois tipos de condutores: condutores de montanhismo e condutores de escalada. Condutor de montanhismo é aquele com competências para conduzir grupos em vias com dificuldade de até 3º grau. Condutor de escalada é aquele com competências para conduzir grupos em vias com dificuldade a partir do 3º grau. (ABNT - Turismo de aventura – Condutores de montanhismo e de escalada – Competência de pessoal Projeto 54:003.05-001).

2 ESPORTE DE AVENTURA, RISCO CALCULADO E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Para Bruhns (1997 apud TAHARA et al, 2006), devido ao ethos civilizatório da sociedade industrial e de consumo, há na atualidade, evidências que reforçam a importância da reflexão sobre a interação humana com o meio ambiente, apontando o compromisso com mudanças de atitudes e valores, os quais possam interferir positivamente nessa relação.

Conforme evidencia Silva (1997, p.119):

Do ponto de vista da área da Educação Física, algumas questões têm se mostrado de forma mais contundente, o lazer no contato com o meio natural, através dos denominados esportes radicais ou esportes de aventura.

Para este autor as discussões sobre a natureza, no âmbito de tal área, têm se dado com maior ênfase relacionada ao lazer, às ações humanas e à (re) descoberta do meio natural.

Para Marinho (2005) é crescente o surgimento de atividades de aventura, práticas corporais, manifestadas principalmente no tempo destinado ao tempo livre. A autora também relata que com o significativo interesse e o rápido crescimento em diferentes instâncias (econômica, social, esportiva, religiosa, dentre outros), as atividades de aventura no meio natural parecem estar encontrando eco junto ao contexto educacional, conforme relatado em diversos trabalhos (PEREIRA, CARVALHO, RICHTER, 2008; ARMBRUST, SILVA, 2010).

Segundo Costa (1999), o esporte de aventura é cercado pela ludicidade e prazer, devido ao cenário e ao bem estar provocado pelo contato com a natureza. Outro aspecto apontado pela autora é a atitude dos sujeitos durante a prática desta modalidade esportiva, uma vez que esta é tomada a partir da noção de risco calculado.

A autora relata que o risco calculado explode no fascínio pela vertigem, que favorece um tipo de embriaguês e um domínio de seus efeitos.

Então podemos dizer que o risco calculado é a possibilidade de ocorrer à situação perigosa, a probabilidade de ocorrência e das consequências de um determinado evento.

O esporte de aventura é pautado por emoções, portanto, é estabelecida por uma relação com o risco, no entanto, de forma fictícia. Esse aspecto quando emerge no cotidiano escolar modifica o cenário das práticas corporais, pois rompe com os elementos performáticos que obrigam que os ditames da aptidão física estejam na centralidade das ações (RICHTER, 2013).

Santos (2013) com relação ao Esporte de Aventura, também menciona que os riscos, a incerteza, o contato com a natureza e os equipamentos podem contribuir com a Educação Física Escolar pelo prazer que tal prática corporal proporciona aos alunos. Além de permitir ao praticante “confrontar-se consigo e assim superar limites, vencer desafio, ultrapassar barreiras, não possuindo limitação de tempo, espaço, idade e sexo” (p. 70).

Assim, o planejamento e a utilização de equipamentos certificados são muito importantes para estabelecer uma pratica esportiva segura.

Dessa forma, com o intuito de manter a segurança dos praticantes, o professor de Educação Física deve estar atento aos padrões de segurança na prática de esportes de aventura, mais especificamente durante as atividades de escalada.

3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Com relação a presente pesquisa bibliográfica realizada, encontramos seis artigos que apresentam o esporte de aventura e os riscos como centralidade das discussões. Entretanto, 97 quatro artigos mencionam o surfe, o voo livre e o mergulho como conteúdos específicos, retirando os referidos trabalhos do contexto deste estudo, pois apresentam uma temática diferente de nossa proposta de análise.

Com relação aos outros dois trabalhos encontrados - Pereira, Carvalho e Rechter (2008) intitulado “Programa de escalada em rocha como educação física para alunos do ensino médio” e o Armbrust e Silva (2010) com o trabalho denominado de “Esportes Radicais como conteúdo da Educação Física Escolar” -, não encontramos referências às normas de segurança, pois a centralidade dos artigos estava pautada em outras questões, conforme disposto a seguir: O trabalho desenvolvido por Pereira, Carvalho e Rechter (2008) pretende demonstrar os benefícios da aprendizagem da escalada no ensino médio bem como os motivos e expectativas dos alunos nessa prática. E, o trabalho de Armbrust e Silva (2010), apresenta como objetivo a reflexão sobre as aproximações e distanciamentos dos Esportes Radicais com as propostas pedagógicas das escolas e, para tal reflexão, utiliza como base o pensamento complexo fundamentado em Edgar Morin.

Ao pesquisar os artigos na Revista Brasileira de Ciências do Esporte, encontramos dois artigos privilegiando os termos utilizados na busca (Educação Física Escolar, Esporte de Aventura e Normas de Segurança). Pimentel (2013) e Dias (2010).

Pimentel (2013) relata que concorrem diferentes propostas de delimitação do objeto: Atividades Físicas de Aventura na Natureza (BETRAN, 2003), Práticas corporais de aventura (INÁCIO et al, 2005), Esportes radicais (UVINHA, 2001), Esportes na natureza (DIAS, 2007), esportes de ação (BRANDÃO, 2010), dentre outras perspectivas. Diante da diversidade de terminologias e a ausência de um acordo, o autor opta em analisar o conceito Esportes na natureza utilizando como referência Dias (2007), pois Pimentel (2013) considera a necessidade do estabelecimento de juízo crítico sobre essa categoria, refutando ou corroborando sua contribuição para o entendimento dessas práticas corporais que, em tese, “recorrem a novas tecnologias, se diferenciam ética e esteticamente dos esportes convencionais e evocam sensações e relações diferenciadas com o meio” (p. 689).

Nos Anais do VII Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura encontramos nove artigos que mencionam a relação entre a referida prática esportiva e a Educação Física Escolar.

Para Luiz Rufino (2012) as Atividades Físicas de Aventura pertencentes à cultura corporal de movimento, é necessário e importante que esta seja introduzida na escola, proporcionando assim a vivência de uma nova manifestação corporal aos alunos, o aprendizado de valores relacionados ao meio ambiente em geral, que estão atrelados a essa prática, além de aumentar os conteúdos da Educação Física. De acordo com Marinho (2005) é crescente o interesse de diferentes adeptos, jovens, crianças, e adultos, de diversos níveis sociais e de diferentes ocupações. Ainda de acordo com a autora, são poucos os estudos na área, se tornando assim um foco crescente de interesse também nas universidades, pois se torna necessário o aprendizado das Atividades Físicas de Aventura para que a atuação profissional seja significativa.

Santos, Gomes e Pereira (2012), por intermédio dos anais do CBAA, buscaram refletir sobre a relação entre a educação física escolar e a proposta do PCN. Ao término do trabalho os autores consideram que muitas propostas que aparecem nos anais do CBAA, apontam um grande interesse pelo assunto entre os professores de Educação Física escolar.

O artigo de Silva, Ramos e Pereira (2012), apresenta a possibilidade de aplicar uma aula de escalada na escola. Para os autores deve-se utilizar práticas simples e seguras para que o docente que não tenha a vivência em esportes de aventura possa quebrar o paradigma de que a escalada não é uma prática segura para se aplicar dentro das aulas de Educação Física.

Mota et al (2012) discutem uma proposta de caderno didático para Educação Física e Esporte de Aventura, a partir de uma disciplina desenvolvida – “Extra Muros” - no Curso de 98 Educação Física da UFF – Niterói (RJ). Os autores reiteram estas práticas como uma possibilidade de motivar as aulas de Educação Física.

Pereira e Bezerra (2012) o esporte de aventura permite trabalhar vários contextos apresentados pelo PCN (Meio Ambiente).

Alves, Agapto, Oliveira e Cravalho (2012) discutem a inclusão do montanhismo como conteúdo da Educação Física Escolar. Os autores tomaram por base a experiência em sala de aula realizada durante o período de Janeiro à Julho de 2011, com os alunos do Curso Técnico Integrado em Eletrotécnica do Instituto Federal do Ceará, campus Juazeiro do Norte. Dentre os conhecimentos do montanhismo, foram abordados durante as aulas os conteúdos de Trekking (Caminhada em Trilhas Ecológicas), Escalada, Rapel e Corrida de Aventura.

Por fim, o artigo de Lureano (2012), o único trabalho que estabelece a relação da experiência com a segurança, relata a ação desenvolvida com estudantes de Educação Física da UFAM de Parintins a partir da vivência da trilha por meio de bike. Posteriormente a experiência os alunos relataram a relação com os seguinte temas: solidariedade, orientação, sustentabilidade, segurança, dentre outros aspectos.

Dessa forma, percebemos uma lacuna na discussão realizada entorno dos riscos e das normas para o esporte de aventura no âmbito escolar. Nesse sentido, cabe salientar que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a International Mountaineering and Federation (UIAA) são os órgãos que estabelecem os procedimentos e normas para tal atividade, conforme discutiremos no item a seguir, por ser está a questão central deste trabalho.

4 NORMAS DE SEGURANÇA E MONTANHISMO

Antes de adentrarmos na discussão relacionada às normas de segurança para o esporte de aventura, acreditamos ser necessário esclarecer que vamos buscar como referência a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e equipamentos certificados pela International Mountaineering and Federation UIAA.

A ABNT foi fundada no ano de 1940, sendo este um órgão normatizador da técnica no país. É uma instituição privada, sem fins lucrativos, reconhecida como um Foro Nacional de Normalização (Resolução n.º 07 do CONMETRO, de 24.08.1992).

Partindo desse pressuposto, cabe mencionar que para uma modalidade esportiva que requer um risco calculado, há a necessidade de normas específicas para tal prática, quanto a uma organização de análise de planejamento, implantação, verificação e ação.

Qualquer profissional que deseje ter o reconhecimento da sua capacidade para atuar em uma das ocupações ou competências para as quais a ABNT desenvolve a certificação, pode solicitar a avaliação para a certificação da qualidade profissional. Da mesma forma, qualquer organização que queira certificar os seus profissionais pode solicitá-la junto a ABNT.

Vale ressaltar que a certificação de um determinado profissional não é condicionada à realização de curso ou treinamento de qualquer natureza, pois um dos principais objetivos da certificação é reconhecer a competência das pessoas independente de como ela foi adquirida, tendo como referência as normas técnicas do setor.

A certificação tem validade de 5 (anos) para todas as ocupações e de 3 (três) anos para todas as competências, o uso do Certificado ABNT pelo profissional deve ater-se ao seu objetivo, que é evidenciar que o profissional certificado tem a capacidade de gerar os resultados esperados para determinada ocupação ou competência de acordo com as normas técnicas.

Com relação a UIAA cabe esclarecer que é um órgão que surgiu a partir de um encontro de associações de alpinismo realizado em 1932, em Chamonix na França. Hoje essa entidade tem sua sede em Genebra na Suíça.

A UIAA é a responsável pela certificação de qualidade e segurança dos equipamentos para esporte radical1 , tendo cerca de 20 categorias diferentes de equipamentos de segurança, incluindo capacetes, cintos, boldriés, freios, chapeletas e mosquetões dentre outros.

Para que possamos utilizar o esporte de aventura como um conteúdo de intervenção na Educação Física, devemos nos atentar para uma prática segura.

Nesse sentido, é importante enfatizar que, mesmo que o professor de Educação Física não seja certificado, é possível que o docente desenvolva tais ações, desde que se disponha a utilizar a NBR 15331 (2005) - Normas para o desenvolvimento do Turismo no Brasil - para nortear o trabalho. O documento estabelece um sistema de gestão da segurança, podendo ser um parâmetro institucional ou para pessoas físicas que busquem prestar serviços em atividades relacionadas ao Esporte Radical.

Caminhar em direção ao estabelecido pelas normas brasileiras requer a constituição do uso do ciclo em etapas estabelecido pela PDCA (Plan – Do – Check – Act): Plan (Planejar): essa etapa busca o estabelecimento dos objetivos e processos necessários para fornecer os resultados relacionados a uma política de segurança.

Na tentativa de gerenciamento de riscos, a norma brasileira define quatro fases que auxiliam tal procedimento: a identificação de perigos e riscos, a análise de riscos, a avaliação de riscos e o tratamento dos riscos.

Posteriormente, ao passar para a segunda etapa (Do) que significa implementar, tornase necessária a implementação dos processos identificados na etapa que antecede (planejamento).

A etapa seguinte é a da verificação (Check), é uma ação que visa monitorar e medir o resultado dos processos em relação à política de segurança na ação de planejamento. É como uma ação corretiva que verifica os objetivos, as metas e se reporta aos resultados para constatação do controle.

Por fim, torna-se necessário atingir a última etapa, agir (Act). É preciso uma análise crítica do responsável pela atividade (ou direção e organização institucional) para tomar as decisões de melhorar processualmente, em fluxo contínuo, a eficiência do sistema de gestão. É relevante salientar que os equipamentos devem seguir a certificação da UIAA.

Partindo dos pressupostos estabelecidos pela ABNT e pela UIAA, mais especificamente a política de segurança, vamos nos deter, neste momento, na apresentação dos instrumentos utilizados na escalada buscando explicar o uso e os devidos cuidados: mosquetão, corda, ancoragem, capacete, baudrier e freio.

O primeiro instrumento a ser apresentado é o mosquetão. Com relação ao material de fabricação pode ser de aço ou alumínio e basicamente é dividido em três grupos: gatilho, rosca e automático. O gatilho é usado para manobras rápidas onde na maioria das vezes utiliza-se uma só das mãos, como por exemplo, costuras e ancoragens. Já os outros dois são utilizados em situações onde o mosquetão possa abrir: o nó UIAA é um exemplo da obrigação do uso da rosca e do automático para melhorar a segurança.

Outro material importante na escalada é a corda. É relevante salientar que a corda utilizada em escalada não é uma corda comum, mas uma categoria denominada de corda dinâmica. Esse tipo de material possui a capacidade de funcionar como conjunto amortecedor de ação progressiva. 1 Para Pereira (2010) o Esporte Radical se subdivide em esporte de ação e o esporte de aventura.

A capacidade de amortecimento permite que durante uma possível queda, o impacto, por intermédio da desaceleração, tenha a diminuição de um choque contra qualquer material sólido.

Assim, a cordada consiste em dois participantes, o guia (ou primeiro da cordada) e o participante (ou segundo da cordada). De modo geral, o guia assume maiores riscos por escalar acima de ancoragens, somente em passagens horizontais os dois correm o mesmo grau de risco.

O capacete é outro material indispensável ao praticante de esporte de aventura. É importante salientar que as fivelas dos capacetes devem estar sempre fechadas para que fique sempre seguro na cabeça.

Ancoragem significa prender-se a um ponto na intenção de aumentar a segurança do escalador. O segurador deve estar sempre ancorado para segurar o impacto de uma eventual queda do guia, procure prever a direção do tranco e coloque fixações adicionais para evitar ser derrubado.

Baudrier, também conhecido como cadeirinha. É usado para prender o escalador na corda ou ancoragem, as fivelas do baudrier devem estar sempre fechadas, atenção especial com baudrier de duas, ou mais, fivelas. As fitas das pernas deverão respeitar o mesmo procedimento, não devendo ficar frouxa e nem muito abaixo da linha de cintura.

O freio deve ser escolhido corretamente de acordo com a escalada prevista. Recomenda-se para uma escalada top-rope - técnica de escalada que se prende acima do usuário - que a outra ponta da corda (que não está presa ao escalador) esteja presa ao gri- gri, devido ao seu bloqueio ser automático acionado apenas pela pressão contraria da corda.

No entanto, se o mesmo for realizado com mosquetão usar sempre o de rosca e verificar se o mesmo está travado e colocado corretamente no baudrier.

Considerando a especificidade da escalada, é preciso permanecer atento ao seguinte detalhe: o início da escalada é marcado pela alegria e ansiedade pela chegada a base da pedra ou montanha, entretanto, depois de tudo planejado, é preciso lembrar que as emoções não podem atrapalhar a segurança da atividade proposta.

Orientar a todos que permaneçam concentrados em suas atividades, principalmente no momento do uso dos equipamentos de segurança. É comum o iniciante se distrair com algo diferente durante o processo negligenciando assim as normas de segurança, por exemplo: depois de iniciar a colocação de o boudrier terminá-la, evitando maiores problemas. Verificar se as fivelas estão completamente fechadas e travadas.

Acreditamos que tais recomendações, auxiliem o profissional em sua prática profissional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do entendimento de que há um aumento significativo da prática do esporte de aventura na área da Educação Física, a sistematização da segurança pelos profissionais envolvidos garantirá a permanência e a legitimidade da referida área em atividades deste segmento.

Todavia é importante destacar, que este estudo buscou contribuir com o debate acerca da importância do uso das normas de segurança em atividades de escalada (esporte de aventura). Cabe ainda considerar que o professor de Educação Física necessita adquirir o conhecimento técnico específico, além dos saberes pedagógicos, quando realizar a utilização da modalidade mencionada como conteúdo de suas ações.

5 REFERÊNCIAS

ARMBRUST, I. ; SILVA, S. A. P. S. . Esportes Radicais como conteúdo da Educação Física Escolar. In: Simposio Multidisciplinar: Universidade e responsabilidade social, 2010, São Paulo. XVI Simposio Multidisciplinar da USJT: Universidade e responsabilidade social. São Paulo : USJT, 2010. v. 16.

AZEVEDO S. L. G.; COCCHIARALE N. F. B. R.; COSTA V. L. M. A influência do riscoaventura no processo de coesão das diferentes comunidades do voo livre, Porto Alegre, v. 16, n. 03, p. 259-278, julho/setembro de 2010.

ABDALAD L.S.; COSTA V.L.M.; MOURÃO L.; FERREIRA N.T.; SANTOS R. F. Mulheres e esporte de risco: um mergulho no universo das apneístas. Motriz, Rio Claro, v.17 n.2, p.225-234, abr./jun. 2011

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15331: Turismo de Aventura – Sistema de Gestão da Segurança – Requisitos. Rio de Janeiro, 2006.

BETTI, I. C. R. Esporte na Escola: mas é só isso, professor? Revista Motriz, Rio Claro, v. 1, n. 1, junho, 1999, p 25 -31.

COSTA, V. L. M. Esportes de aventura e risco na montanha: uma trajetória de jogo com limites e incertezas. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: PPGEF/UGF, 1999.

Dias C. A. G.: O surfe e a moderna tradição brasileira. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 04, p. 257-286, outubro/dezembro de 2009.

DIAS, Cleber Augusto G. Educação Física escolar e os esportes na natureza. In: Encontro fluminense de Educação Física escolar, 8., 2004, Niterói. Educação Física e cultura. Anais... Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2004.

FIGUEIREDO, N. Da importância dos artigos de revisão da literatura. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 23, n. 1/4, jan/dez, 1990, p. 131-135.

PEREIRA, A. S.; PIMENTEL, G. G. A.; LARA, L. M. Atividades físicas de aventura na natureza: Relações entre estilo de vida aventureiro e modo de vida rural para a melhoria da qualidade de vida. Revista CESUMAR, v.06, n.02, jul.dez., 2004, p. 112–119.

PEREIRA D. W.; CARVALHO G. S.; RICHTER F.; Programa de escalada em rocha como educação física para alunos do ensino médio. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.7, nº 1 – 2008.

MARINHO A.; Natureza , tecnologia e esporte: Novos rumos; CONEXÕES: revista da faculdade de Educação Física da UNICAMP, v. 1, n. 2 p. 62- , dez. 1999.

RICHTER, F. Atividades Radicais e de Aventura nas aulas de Educação Física. In PEREIRA, D. W. Atividades de aventura: em busca do conhecimento. 1 ed. Várzea Paulista, SP: Fontoura, 2013.

SILVA PPC, AZEVEDO AMP, SILVA EAPC, FREITAS CMSM. Risco e práticas corporais na natureza: uma revisão sistemática . R. bras. Ci. e Mov 2010;18(2):84- 91. 

SCHWARTZ, G.M.; TAHARA, A.K.; CARNICELLI FILHO S. Meio ambiente e atividades de aventura: significados de participação. Revista Motriz, Rio Claro, v.12, n.1, jan.abr., 2006, p.59-64.

SILVA, A. M.; A dominação da natureza: o intento do ser humano. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 18, n. 2, jan., 1997, p.119-125.

TAHARA, A. K.; Atividades de aventura como conteúdo da educação física: reflexões sobre seu valor Educativo, Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 88 - Setiembre de 2005.

TAHARA A. K.; SCHWARTZ G. M. Atividades de aventura na natureza: Investindo na qualidade de vida, Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 58 - Marzo de 2003.

Acessar