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INTRODUÇÃO:

Que indicadores epistemológicos identificamos nas práticas alimentares que podem revelar a articulação entre alimento, saúde e existência e entre alimento, natureza e cultura? Que argumentos esses indicadores revelam para argumentarmos a respeito da natureza interdisciplinar do conhecimento da Educação Física? A pesquisa tem como objetivo identificar nas práticas alimentares indicadores da relação entre alimento e saúde, alimento, cultura e existência.

METODOLOGIA:

A pesquisa é de natureza fenomenológica e a rede de significados foi composta por meio da interpretação de referenciais teóricos pertinentes às categorias temáticas: alimento, saúde, cultura e existência.

RESULTADOS:

Podemos entender o alimento como uma realidade que entrelaça a natureza e a cultura. Os inúmeros significados que os alimentos podem nos fornecer vão além da nutrição e da sobrevivência: são capazes de unir e criar laços sociais entre os seres humanos, fortalecer alianças políticas, além de ser um fator determinante de costumes e tradições de um determinado grupo social, além disso pode diferenciar as diversas culturas. Nos séculos XVII e XVIII, as boas maneiras e o bom gosto eram um fator que determinava as distinções sociais entre as elites sociais e as massas populares. Na Idade Média, também houve um desenvolvimento de uma dietética como forma de cuidado do corpo, entretanto, esses cuidados eram embutidos de preceitos religiosos e morais, sendo revelados a partir das atividades da existência, como a comida e a bebida. A partir do século XIX acentuou-se a idéia de que para se obter uma boa forma física era necessário ingerir alimentos que, junto com algumas práticas corporais pudessem proporcionar um estilo de vida saudável. Na atualidade a nutrição está dominada pela estética do corpo e as práticas alimentares estão cada vez mais influenciadas no sentido de garantirem uma boa forma física, comportamento social resultante de um modelo de corpo ideal imposto pela sociedade e reforçado pela mídia.

CONCLUSÕES:

Relacionar corpo à cultura significa uma compreensão do corpo não apenas como território biológico, mas como o corpo como lugar de inscrição e de criação da cultura, da história, da sociedade. Significa articular argumentos em torno da relação corpo, natureza e cultura.

O alimento é um indicador biocultural por excelência, a partir de uma natureza transformada. Essa transformação cria uma dietética que vai muito além da nutrição para garantir a sobrevivência; indicando também um código especial, fundado no conjunto das maneiras à mesa; bem como, do pertencimento social que os alimentos revelam. A história dos alimentos apresenta-se como um dos indicadores mais marcantes da compreensão biocultural do corpo humano, visível na preocupação com a obesidade ou com a magreza, peso ideal, calorias, entre outros aspectos nutricionais e sociais. As relações entre dietética e a aparência do corpo, que suscitam dessa discussão podem redimensionar o conhecimento da Educação Física, sensibilizando os profissionais desta área a não se submeterem aos modelos mecanicistas do corpo e a não reduzirem a complexidade do fenômeno das práticas alimentares. É necessário considerar a diversidade e respeitar as diferenças que são reveladas nas expressões de cada um, em relação aos padrões de corpo e às práticas alimentares.