Integra

Toda posição de julgamento é revestida de poder que pode ser conquistado por mérito ou por jogos políticos que nem sempre validam o mérito.

Não se precipitem a me julgar aqueles que defendem os mandantes atuais nas mais variadas esferas de poder. Lembrando que para Foucault, o poder não é algo unitário e global, pois não é um objeto natural, uma coisa. Ele é antes de tudo uma prática social, constituída historicamente, portanto, em constante transformação.

Busco aqui refletir sobre as consequências de um ato que altera o curso de histórias individuais e também coletivas. No esporte, bem como em outras manifestações sociais, o poder do árbitro determina a vitória e a derrota daqueles que competem. Enquanto o vitorioso desfruta da luz do pódio, o derrotado experimenta a sombra do esquecimento. Felizmente, no rastro do esquecimento ficam vestígios que, com o tempo, podem levar ao entendimento do veredito inicial.

Por acompanhar essa discussão ao longo de gerações, classifico a derrota em três categorias.

A derrota por incompetência. É a derrota óbvia relacionada à falta de preparo de quem se aventura a uma competição sem o nível adequado para aquela disputa. O resultado inquestionável independe de forças externas. É cabal e evidente. Ao derrotado compete voltar aos treinos e aprimorar suas habilidades.

A derrota pelo mérito do adversário. Aqui se tem o exercício de um valor olímpico, a excelência. É o certame desejado tanto para os competidores como para o público. Nesse tipo de disputa a manifestação de habilidades leva à vitória reconhecida e assimilada, inclusive para quem perde. Em uma competição assim não haveria a necessidade de juízes, inclusive porque os próprios envolvidos na luta são capazes de reconhecer o mérito do vitorioso. Resultados assim são consagrados pela história.

Mas, há um terceiro tipo de derrota alheia às habilidades de quem compete. Atendendo a interesses previamente determinados essas disputas são marcadas por um resultado previsível, independente daquilo que é demonstrado na disputa. Árbitros não arbitram, simplesmente defendem uma posição. Habilidades são desprezadas em detrimento da busca de um placar que justifique um resultado já acordado. Números que tem a função de afirmar dados são manipulados com a finalidade de objetivar a subjetividade de uma escolha prévia.

E, quando não se tem um golpe inquestionável como um ippon, um nocaute ou o tapa do imobilizado admitindo a vitória do adversário, resta a confiança em decisões justas advindas de juízes.

É aqui que a subjetividade entra em cena para justificar a injustiça. Revestido de um discurso competente, o árbitro tem o poder de determinar o vitorioso. E então o belo salto da ginasta, a irreverência de um gesto inesperado de uma equipe de nado artístico ou uma manobra inédita no skate podem ser usados com a intenção de desqualificar o brilho de quem inovou ou arriscou, fugindo dos padrões. É a vitória da vergonha, da incompetência que impede qualquer tipo de avanço técnico ou moral.

Resultados injustos marcam a vida de inúmeros atletas. Para alguns isso foi apenas um momento passado. Para outros as marcas são tão profundas que determinam o resto de uma existência. Para os juízes que erraram, ou intencionalmente manipularam o resultado, resta o asco pela atitude desprezível.

A derrota quando injusta tem poder transformador. Inocula-se no derrotado a busca pela justiça. E isso move o mundo.