Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar a relação entre o automobilismo e a cidade do Rio de Janeiro tendo como foco o deslocamento das corridas de rua para o Autódromo Internacional do Rio de Janeiro, entre 1954 e 1966. O fim do Circuito da Gávea (1954) iniciou um período de sombra para o automobilismo na cidade, numa época caracterizada pela implantação da indústria automobilística nacional (1956) e pelo crescimento urbano acelerado das capitais. Utilizou-se a abordagem da história cultural (BARROS, 2008) para relacionar o automobilismo ao cenário urbano que se modificava em função de um ideal de modernidade, (SEVCENKO, 1998) que influenciava o modo de vida da população. As fontes foram as revistas “Quatro Rodas” e a “Revista de Automóveis”. Buscou-se nestes periódicos, reportagens, editoriais e outros textos que permitissem uma aproximação com o cotidiano do automobilismo e suas transformações. Na Revista de Automóveis (1954-1959), as reportagens privilegiavam os acontecimentos do esporte a motor no Rio de Janeiro e a implantação da indústria nacional. As Crônicas mostravam a relação de proximidade e dependência que se costurava entre a população e o automóvel na cidade. A revista Quatro Rodas (1960- 1966) anunciava que o autódromo de Interlagos, na cidade de São Paulo, protagonizava um novo momento do automobilismo brasileiro com grande participação das indústrias, apesar dos graves problemas administrativos. As corridas no Rio de Janeiro neste período figuraram, na maioria das vezes, em notas de menor importância. Nos anos 1960, um novo momento era anunciado pela revista, com diferentes formas de utilização do automóvel, como o turismo sobre rodas, que motivava o acompanhamento da construção de estradas nacionais, bem como, suas condições de rodagem. As duas revistas apresentavam uma conotação pedagógica para introdução do automóvel na sociedade, e uma preocupação com a adaptação urbana ao crescente número de veículos. Conclui-se que o automobilismo propagava o desenvolvimento nacional calcado nas indústrias automobilísticas, ao mesmo tempo em que se desenvolvia, através dos investimentos industriais. A briga entre o Automóvel Clube do Brasil e a Confederação Brasileira de Automobilismo pela administração deste esporte marcou esta época e não trouxe contribuições para o seu desenvolvimento. A cidade do Rio de Janeiro que abarcava corridas no centro urbano empurrou essas provas, de acordo com o seu crescimento, para bairros distantes, como a Barra da Tijuca. A boa presença de espectadores assistindo as corridas evidenciava a importância deste esporte na cidade, que aliado a estreita relação com as indústrias, reuniu as condições necessárias para a construção do Autódromo Internacional do Rio de Janeiro em 1966.