Resumo

Desde suas experiências iniciais há duas décadas, o currículo cultural da Educação Física, que defendemos neste estudo, tem abordado as práticas corporais não hegemônicas e historicamente negligenciadas, seja por preconceito quanto aos grupos que as criam e recriam, seja por considerá-las de menor importância. Além de tematizar as brincadeiras, danças, lutas, ginásticas e esportes produzidos pelos setores minoritários e dar visibilidade aos significados partilhados, a perspectiva cultural procura construir uma ambiência de pertencimento, onde todos os grupos se sintam legitimados e que o espaço escolar se configure como território propício ao encontro e valorização de distintas culturas. Todavia, para que isso aconteça, o/a professor/a que coloca a proposta em ação precisa ser agenciado/a por determinados princípios ético-políticos. O presente artigo submete tais princípios ao confronto com argumentos pós-colonialistas e identifica na descolonização do currículo e na justiça curricular os elementos mais potentes para influenciar o/a docente no desenvolvimento de uma educação antirracista.

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