Resumo

A capacidade de realizar tarefas duplas é altamente vantajosa e um pré-requisito para uma vida funcionalmente eficiente. Indivíduos com doença de Parkinson (DP), ao realizar tarefa dupla, especialmente cognitiva e andar simultaneamente, revelam falta de automaticidade, alterações no padrão de andar e consequentemente, aumento no número de quedas. A tarefa cognitiva normalmente empregada requer contagem regressiva ou nomeação de objetos, que apresenta um componente motor, o falar. Poucos estudos verificaram o desempenho, o custo na tarefa secundária e empregaram tarefa cognitiva sem componente motor. Assim, qual o efeito e o custo da tarefa dupla (CTD), com diferentes exigências, na marcha de indivíduos neurologicamente sadios e indivíduos com DP idiopática? O objetivo foi verificar o efeito e o CTD de diferentes complexidades no comprimento (CPA) e na velocidade da passada (VPA) de indivíduos com DP e neurologicamente sadios (GC). Participaram 30 indivíduos com DP (69,1±7,1 anos) entre os estágios 1 e 2,5 da escala de Hoehn & Yahr no estado ON do medicamento e 24 no GC (69,7±5,4 anos). A tarefa consistiu em percorrer andando rápido uma distância de 8 metros, nas condições: A) andar; B) andar e carregar uma bandeja; C) andar, carregar a bandeja e equilibrar uma bolinha; D) andar, carregar a bandeja e realizar o teste de Stroop; e E) andar, carregar a bandeja equilibrando a bolinha e realizar o teste de Stroop. Cinco tentativas de cada condição, sendo estas randomizadas. Para o registro cinemático foi utilizado um Optotrak, posicionado no plano sagital direito. As variáveis do andar foram o CPA e a VPA. O CTD foi calculado pela subtração entre tarefa dupla e tarefa simples, dividido pela tarefa simples e multiplicado por 100. ANOVAs com medidas repetidas e testes de contrastes foram utilizadas para as comparações e nível de significância de p <0,05. A ANOVA apontou efeito de grupo e de condição com diferenças significativas para CPA (p=0,047; p<0,001, respectivamente) e VPA (p=0,006; p<0,001, respectivamente), com menores valores médios para os indivíduos com DP, apresentando maior CPA e VPA nas condições A e B em relação às condições C, D e E. No entanto, na condição C a VPA foi maior que na condição D e E. Para o CDT, a ANOVA apontou efeito de grupo para CPA (p=0,006) e efeito de condição para CPA e VPA (p<0,001) com menores CTD para o GC. Independente de grupo, o CTD foi maior na condição E (21,4%; 15,13% e 25,3%; 20,6% com p<0,001) tanto no CPA quanto na VPA quando comparada a todas as outras condições. O CPA e a VPA em indivíduos com DP apresentam-se mais acentuadas na presença de tarefa complexa (motora, cognitiva), demandando maior atenção e maior CTD quando comparados ao GC. Considerando que tarefas dessa natureza são comuns no dia-a-dia, esse resultado pode ser importante para direcionar os procedimentos de intervenção e prevenção de quedas, visando melhor funcionalidade e qualidade de vida desses indivíduos.

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