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Com muita tristeza registro a morte do professor Ary Façanha de Sá, mestre do nosso atletismo e competidor olímpico. Depois de atletas tornou-se gestor federal no Ministério da Educação, quando idealizou o novo modelo dos Jogos Escolares Brasileiros, JEBS,em 1969, que perdeu o espírito exclusivo de congraçamento para se tornar, também, garimpo de talentos. 

Ary morreu neste domingo, aos 92 anos, em Brasília. Ele será sepultado nesta segunda-feira, às 17h, no Campo da Esperança. 

O esporte em geral e o atletismo em particular estão de luto com a perda desse gigante, contemporâneo de outros destaques, como o professor Mário Cantarino, um dos maiores técnicos de atletismo que já tivemos, além dos expoentes do salto, como João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, do bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva, do velocista José Telles da Conceição, Nelson Prudêncio, João de Oliveira, craques de uma inesquecível geração de competidores. 

ATLETA OLÍMPICO

Em novembro de 2003 entrevistei o professor Ary Façanha, quando ele foi homenageado na abertura dos 25º JEBS, em Brasília.  Ele detalhou sobre o emocionante quarto lugar que conquistou no “salto em extensão”, hoje salto em distância, nos Jogos Olímpicos de 1952, Helsinque. Naquele evento, em que Adhemar Ferreira da Silva ganhou a sua primeira medalha de ouro no salto triplo, o bronze escapou de Ary Façanha por escassos sete centímetros no salto em distância.  

Depois do terceiro e último salto, a melhor marca de Ary era 7,23m. Porém, o húngaro Odon Foldessy partiu para a sua última tentativa e cravou 7,30, conquistando o bronze. 

HOMENAGENS

É do amigo Orlando Ferracioli, ex-servidor do Ministério do Esporte, o seguinte relato:
“Ary Façanha de Sá nasceu no interior do Maranhão, em 1928. Com 20 anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro, cursou educação física e foi competir pelo Fluminense, onde defendeu o clube por dez anos de 1951 a 1961.  Ary parou de competir em 1961.

Um dos maiores nomes do atletismo do continente, competia em várias provas, sendo sua especialidade o salto em distância.  Ary participou em duas Olimpíadas, em Helsinque em 1952, e a segunda em Melbourne, Austrália em 1956.

Em 1955, nos Jogos Pan-Americanos, na Cidade do México, Ary bateu o recorde pan-americano, com 7,84m, a quarta melhor marca do mundo. Seus recordes sul-americanos só foram superados mais de 20 anos depois, pelo lendário João do Pulo.

Ary casou-se com Albanisa, no Rio, em 1962. Em 1965, mudou-se para Brasília, veio com a esposa e o filho mais velho, dois dos três filhos nasceram em Brasília.  Em 1970, assumiu o departamento esportivo do MEC (Ministério da Educação), onde idealizou os Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s). Ary contribuiu muito para evolução esportiva do nosso país.

Ary Façanha de Sá foi um homem que, como atleta, voava e como professor impulsionava outros a voar, o esporte brasileiro está de luto. Eterna admiração. Vá com Deus Mestre”.

Já o professor Fernando Franco, que também competiu no atletismo, atualmente estatístico dessa modalidade, lembrou: “Foi o Ary Façanha que me deu o primeiro sapato com pregos, para competição, quando eu treinava no Fluminense, no Rio de Janeiro, em 1964. Ele veio de um curso na Alemanha e me trouxe uma sapatilha Adidas, vermelha de presente. Inesquecível”. 

Outro expoente do nosso esporte, o professor Francisco Xavier, reforçou que, “como atleta, Ary Façanha foi grandioso com suas marcas e conquista. Além disso, a humildade dele chamava atenção: “E estava sempre disposto a ajudar as pessoas, técnicos, atletas e dirigentes, principalmente.  Isso me marcou”, reforçou Xavier. 

Ricardo Vidal, que dirigiu o Instituto Joaquim Cruz, em Brasília, hoje trabalhando na Secretaria Especial de Esporte, lembrou que os Jogos Escolares da Juventude voltarão a ser disputados no formado original. De 2005 até hoje estavam sob a coordenação do Comitê Olímpico do Brasil e, agora, justo no ano da morte do seu idealizador, recupera o formato antigo, Jogos Escolares Brasileiros (JEBS), na coordenação da Confederação Brasileira de Desporto Escolar. Simbolicamente, fica a homenagem a Ary Façanha. 

TRISTEZA

Confesso que redijo essa nota com grande tristeza. Além de perder amigos e ídolos do esporte testemunhei grandes feitos dessa geração que está nos deixando. Foram técnicos e gestores que defendiam a prática esportiva também como recurso para a formação do caráter dos jovens. O que se viu na geração seguinte a deles mostra que a lição estava correta. Lamentavelmente, os dirigentes seguintes não seguiram nossos Mestres.