O Futebol -arte e o Esquecimento da Ciência na Copa de 1970: as Memórias de Lamartine Pereira Dacosta
Por Marco Antonio Santoro Salvador (Autor), Antonio Jorge Gonçalves Soares (Autor), Tiago Lisboa Bartholo (Autor).
Em IX Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física CHELEF
Resumo
A memória possui um papel fundamental no processo de construção da identidade nacional ou étnica, quando cumpre a função de conectar as diferentes gerações através das lembranças de glórias ou tragédias.114 O futebol, como uma das instituições identitárias na construção e reforço deste perfil, é lido desta forma pelas lentes nacionais como fenômeno cultural popular que representa o Brasil imenso, generoso e tropical, fruto da miscigenação pacífica das diferentes etnias, que produziu um povo criativo, genial e artístico, onde o samba e o futebol são destacados como expressões prediletas. Segundo DaMatta: “(...) sem drama não há rito e que o traço distintivo do dramatizar é chamar atenção para relações, valores ou ideologias que, de outro modo, não poderiam estar devidamente isoladas das rotinas que formam o conjunto da vida diária. (...) o rito e o drama seriam um determinado ângulo de onde uma dada população conta uma história de si mesma para si própria. O futebol praticado, vivido, discutido e teorizado no Brasil seria um modo específico, entre tantos outros, pelo qual a sociedade brasileira fala, apresenta-se, revela-se, deixando-se, portanto, descobrir.” (Turner, 1974, Geertz, 1973, apud DaMatta, 1982) Pelas lentes de DaMatta (1982: 22-29), poderíamos pensar que os valores da disciplina e do esforço, próximos aos da figura do que convencionamos popularmente chamar de “Caxias”, não traduzem com fidelidade, aquilo que o brasileiro gosta de contar de si mesmo. Parece que há esquecimentos sobre esses processos do agir sob os marcos da rotina e da disciplina. O valor está em livrar-se das “situações difíceis, fazendo isso com alta dose de dissimulação e elegância, de modo que os outros venham a pensar que para o jogador tudo estava muito fácil”. Neste sentido, ao analisarmos como a memória da conquista da Copa de 1970 é construída socialmente, podemos observar como os personagens centrais responsáveis pela preparação e treinamento físico são esquecidos ou secundarizados no presente, em relação ao trabalho específico da preparação física. A vitória de 1970 é rememorada como a máxima expressão do “futebol-arte”115, isto é, a referência do que “deve ser” o futebol brasileiro.