Resumo

Este trabalho busca compreender como os enfrentamentos entre Brasil e Argentina dentro de campo auxiliaram no processo de legitimação política no período de 1974 a 1979. Para isso, utilizamos da corrente construtivista com a elaboração dos conceitos de Estado, nação, cultura e identidade nacional. Nossa hipótese é de que pela identidade nacional ser uma criação com fins de legitimação estatal que dependente de variáveis históricas, culturais, ideárias e de agenda política, o futebol também entraria nesse meio para promover ainda mais o Estado e suas ações. Com a corrente construtivista e a teoria de diferenciação de Campbell (1998), entendemos que essas variáveis fazem parte de um processo de criação identitária por meio da diferenciação perante outro Estado-nação. De acordo com a definição de Estado: “empresa institucional de caráter político onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física, com vistas ao cumprimento das leis” (Weber, 1922, p.53 apud Bobbio, 1992, p.956). E de a nação baseada no reconhecimento mútuo da população enquanto parte de um grupo cultural, sendo o objeto de convicção, lealdade e solidariedade ao Estado (Gellner, 2008). Compreendemos que o Estado-nação inventa a ideia de uma identidade nacional baseada nas tradições e crenças preexistentes para intensificar seu poder, combinando identidade nacional e identidade cultural (Geary, 2005). Ademais, na corrente construtivista a cultura é vista como “um significante móvel que permite maneiras distintas e divergentes de falar sobre a atividade humana para uma variedade de propósitos” (Barker, 2004, p.44). Deste modo, entendemos a cultura por meio de seu uso e consequência, sendo a finalidade a de enfatizar a interseção de poder e significado (Barker, 2004). Para tal, o uso é dado pela diferenciação fomentada pelo Estado, gerando um “eu” em oposição a um “outro”, ou seja, quem faz ou não parte de um determinado grupo (Campbell, 1998). Como os torcedores de uma seleção de futebol formam um grupo em oposição a outra seleção, neste caso, a brasileira e a argentina. Complementação possível por conta do fenômeno de correspondência entre a seleção [brasileira] e o povo [brasileiro], no qual o povo interpreta a vitória como “triunfo da capacidade da nação” e as derrotas como “denúncia da indigência do seu povo” (Guedes, 1998 apud Carvalho, 2013, p. 5).