Editora Civilização Brasileira. Brasil 2000. 93 páginas.

Sobre

Paulo Mendes Campos só podia ser Botafogo. Como o Botafogo ele é “mais abstrato que concreto; tem folhas secas; alterna fervor com indolência”. É botafoguense como Bach, Stendhal e Dostoievski seriam se fossem contemporâneos da estrela solitária. Nas arquibancadas do Maracanã, do estádio General Severiano, "Lord Byron" — como Nelson Rodrigues descrevia Paulo Mendes Campos — era um torcedor típico, curtido no flagelo que só os botafoguenses se infligem, mas recompensado por momentos de júbilo únicos. Viu de perto uma geração fantástica de craques. Garrincha causando “pânico formidável” na área adversária, Nilton Santos velando pelo sono tranqüilo do goleiro Adalberto, a folha seca de Didi descobrindo frestas inimagináveis. Paulo Mendes Campos era devoto do futebol. Nem de longe foi cronista esportivo assíduo como o tricolor Nelson Rodrigues ou o flamenguista José Lins do Rego. Mas incluía-se entre os adoradores da bola que não apenas se embevecia com a suprema arte os craques. Falava com experiência própria de esforçado peladeiro. No quintal de um edifício em Ipanema suava em rachas em que “um flamboiã jogava de beque central dum lado, uma palmeirinha do outro”. Em parte corria atrás de um “restinho de infância” (“A infância é apenas isto: a sensação de que viver é de graça”, definiu com perfeição). É só uma meia verdade. “A verdade integral é a bola. O futebol paixão. Esse amor que faz um homem de quarenta e tantos anos sofrear o sono da fadiga para rememorar em câmara lenta o gol de cobertura que fez pela manhã”. É pena que Paulo Mendes Campos não tenha escrito mais sobre futebol. Ajudaria a liberar o divino esporte bretão das mordaças de tantos clichês.