Resumo
Tido como um dos fenômenos sociais mais expressivos desse século, o esporte tem representado um papel denunciador de questões econômicas, sociais, políticas e étnicas, capaz de apresentar as mais variadas facetas de sociedades e indivíduos que protagonizam ou organizam o espetáculo esportivo. Tendo sua origem associada ao reconhecimento e usufruto da cidadania, o esporte reproduz ao longo de sua história, e da humanidade, valores e padrões culturais indicadores do momento vivido. Reconhecido como uma forma elementar de socialização até uma variedade profissional, o esporte é identificado por elementos como força, superação de limites, vitória a qualquer preço e supremacia enquanto valores próprios, tornando-se mais um reflexo e produto de um imaginário conceituado como heroico, a partir da perspectiva das estruturas antropológicas do imaginário de G. Durand. Transformado em espetáculo pelos meios de comunicação de massa ao longo da década de 1970, o esporte que tinha, a partir de sua reorganização no final do século XIX, a prática amadora e o fair play como elementos fundamentais daquilo que se denominou olimpismo e se propunha a promover a harmonia internacional, impôs a seus protagonistas uma mutação de papéis ao longo das últimos anos, reforçando no atleta uma condição heroica mítica, bastando para isso uma performance surpreendente como a quebra de um recorde ou a conquista de um campeonato ou de uma medalha olímpica. O papel que esses atletas desempenham como representantes de uma comunidade, freqüentemente transpondo obstáculos aparentemente insuperáveis aos demais membros de seu grupo social, favorece a construção da condição heroica e a expectativa de feitos incomuns. O objetivo desse trabalho é compreender a constituição do imaginário de atletas e, relacionando ao regime de imagens de Durand e ao trajeto heroico de Campbell, descobrir os mitemas que constelam esse universo na atualidade, em diferentes níveis de colocação na carreira. Os atletas-sujeitos dessa pesquisa são vistos dentro de seu grupo de semelhantes, não em uma equipe esportiva específica, mas enquanto indivíduos que optaram por uma prática, em diferentes locais e momentos cronológicos, que os levam a ser identificados como tal. A análise das histórias de vida leva a afirmar que a vivência do arquétipo do heroi pelo atleta é experimentada em toda a sua abrangência, seja pela demonstração de força e coragem, seja pela capacidade de realizar virtudes destinadas a poucos, seja até em determinados momentos pela morte trágica. Contudo isso, não é de se estranhar que justamente este personagem seja o alvo de projeção de grande parcela da população de crianças e jovens na atualidade.