Resumo

A atividade física (AF) é reconhecida como fator protetivo contra sintomas depressivos (SD). Entretanto, marcadores sociais de vulnerabilidade podem interagir interseccionalmente, contribuindo para desigualdades no acesso à AF e cuidados em saúde mental. O papel dessas interseccionalidades na associação entre AF e SD permanece pouco elucidado. OBJETIVO: Analisar o papel moderador de marcadores interseccionais na relação entre AF e SD em universitários brasileiros. MÉTODOS: Estudo transversal com dados da linha de base do UNILIFE-M. Amostra incluiu estudantes de ≥16 anos, calouros 2023/2024 em cursos de graduação e pós-graduação de 13 universidades brasileiras. O Índice Jeopardy avaliou interseccionalidades (sexo, gênero, orientação sexual, etnia e renda), variando de 0 (mais privilegiado) a 5 (mais vulnerável). A AF foi avaliada por uma questão do SMILE-U e os SD pela Escala Transversal de Sintomas do DSM-5 e pelo PHQ-9 (≥10). Utilizou-se regressão de Poisson com variância robusta e termos de interação. RESULTADOS: Amostra composta por 5.569 estudantes (20,87±4,84 anos, 59,85% mulheres). Entre os estudantes insuficientemente ativos, observou-se maiores prevalências de SD nos grupos mais vulneráveis, sendo 1,30 (IC95%:1,04;1,62), 1,59 (IC95%:1,29;1,96), 1,87 (IC95%:1,52;2,29) e 2,09 (IC95%:1,70;2,57) vezes maior entre aqueles com 1, 2, 3, 4/5 marcadores, respectivamente, em comparação aos estudantes insuficientemente ativos sem marcadores. Estudantes fisicamente ativos sem marcadores de vulnerabilidade apresentaram uma menor prevalência de SD (RP:0,70;IC95%:0,53;0,92), comparados aos estudantes inativos sem marcadores. Não houveram associações entre os grupos com ativos com 1 ou 2 marcadores. Grupos com 3, 4/5 marcadores, apesar de ativos, apresentaram uma prevalência 1.54 (IC95%:1,24;1,90) e 1.81 (IC95%:1,450;2,27) vezes maior de SD, respectivamente, em relação ao grupo mais privilegiado e insuficientemente ativo. CONCLUSÃO: A AF parece atenuar o impacto vulnerabilidades sociais na prevalência de depressão em pessoas com um ou dois marcadores de vulnerabilidade social, mas este efeito não é evidente em grupos com mais vulnerabilidades.

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