O pensamento docente sobre o preconceito racial nas aulas de educação física
Por Eliane Isabel Fabri (Autor), Lílian Aparecida Ferreira (Autor).
Em IX Colóquio de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana
Resumo
No cenário da formação de professores, os casos de ensino aparecem como recurso para acessar inúmeros aspectos correspondentes ao pensamento docente. A produção de casos de ensino, envolvendo situações que ocorrem nas aulas de Educação Física, pode apresentar uma diversidade de elementos relativos aos processos de ensinar e aprender, dentre estes, questões vinculadas aos preconceitos manifestados e/ou incentivados nas/pelas práticas pedagógicas e até mesmo pelas próprias práticas corporais. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi analisar os modos de pensar de professores de Educação Física sobre um caso de ensino. O caso de ensino narrou uma brincadeira relacionada a cores, na qual somente quem tivesse a cor escolhida pelo/a pegador/a deveria se deslocar para o outro lado da quadra. Uma garota pegadora escolheu “cor de pele” e, dessa forma, todas as crianças começaram a correr para o outro lado. Entretanto, a garota que escolheu a cor disse que uma das crianças não poderia ter passado porque era negra. A pesquisa, de natureza qualitativa e caráter descritivo-interpretativo, deu relevo às narrativas escritas produzidas pelos docentes em um debate coletivo em torno do caso de ensino já informado. Participaram deste estudo 10 professores pertencentes às redes municipal e estadual da região centro-oeste paulista do Brasil. Os resultados revelaram que os professores identificaram a manifestação de racismo entre os estudantes e apresentaram como agiriam em tal caso. Houve reconhecimento da necessidade de intervenção dos professores em situações de preconceito. Dentre as ações sugeridas, apareceram: diálogos com os estudantes sobre situações de preconceito; realização de projetos interdisciplinares sobre as diferentes culturas dos países, como a africana e a indígena; discussões sobre as diferenças de gênero, raça, sexualidade, classe social; aulas com brincadeiras indígenas e africanas e suas construções culturais e de significação; envolvimento dos pais dos estudantes em atividades na escola nas quais o tema das diferenças seja tratado; realização de pesquisas e estudos sobre o racismo com os estudantes. A análise coletiva do caso de ensino foi reveladora do raciocínio pedagógico dos professores que narraram os modos como pensavam e agiriam frente às situações de preconceito nas aulas de Educação Física. Para além disso, a experiência os mobilizou a acessar, externalizar e compartilhar práticas pedagógicas, bem como reconhecer aquelas que já sabiam e realizavam em suas aulas. Por fim, os docentes pontuaram a demanda por políticas públicas e programas de formação continuada docente em prol de reflexões e ações que os ajudem no enfrentamento do preconceito racial em suas aulas e na escola como um todo