Resumo

O campo da Educação Física no Brasil vem passando por uma série de transformações que alteraram seu funcionamento e disposição, especialmente nas duas décadas finais do século XX e início do século XXI, com a veiculação do conhecimento em periódicos especializados ganhando cada vez mais notoriedade, visto que a comunicação dos resultados de pesquisas é elementar nas ciências, portanto os periódicos podem expressar as disputas pela legitimação de um campo. Neste sentido, a presente tese de doutorado teve como tema de pesquisa o periodismo científico no campo acadêmico/científico da Educação Física brasileira. Tal temática se aproxima dos estudos socioculturais da Educação Física e se apoia na teoria de Pierre Bourdieu sobre campo científico. Portanto, esta tese teve como objetivo geral compreender o periodismo científico da Educação Física brasileira dentro das dinâmicas vigentes no campo acadêmico/científico. Para tanto, buscou-se identificar os periódicos científicos da Educação Física brasileira, compreender como se dá o trabalho editorial e
averiguar as relações que os periódicos estabelecem com outros agentes e instituições do campo. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, cujos dados foram coletados e analisados em três fases. Na primeira buscou-se no Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esporte e no Qualis Periódicos da CAPES, dados disponíveis sobre os periódicos da Educação Física brasileira. Na segunda fase foram acessados os sites dos periódicos identificados, no intuito de recuperar dados e documentos como as informações de foco e escopo, tempo de existência, políticas editoriais, indexações, dentre outros. Na terceira fase realizaram-se 10 entrevistas semiestruturadas com o(a)s editore(a)s-chefes dos periódicos selecionados, no intuito de entender o funcionamento e as demandas destes periódicos. Os dados passaram por análise de conteúdo, realizada com apoio do software MaxQDA®. Identificou-se 39 periódicos, cujo foco e escopo abrangem diversos temas e objetos na Educação Física, implementados majoritariamente nas décadas de 1990 e 2000. Estes periódicos têm como principal vínculo as Instituições de Educação Superior, especificamente as universidades públicas e as associações científicas, estão indexados em bases de dados e catálogos, com maior proporção no Google Scholar e Latindex, sendo que a minoria consta nas coleções dos indexadores mais disputados como Web of Science (3 periódicos) e Scopus (5 periódicos). Os dados das entrevistas com o(a)s editore(a)s-chefe indicam um vínculo com a Educação Física no âmbito da formação e atuação profissional, mas também se relacionam com outros campos do conhecimento. Estes agentes se inseriram nos periódicos em quatro formas distintas, categorizadas em criação, progressão, prontificação e transferência, e são responsáveis diretos pela execução de várias tarefas necessárias para o funcionamento dos periódicos. Estes periódicos têm enfrentado desafios de diferentes ordens, que passam pelos aspectos de Gestão Editorial, Profissionalização, Financiamento, Indexação e Internacionalização, e variam conforme o estado de consolidação destes periódicos no campo acadêmico/científico. Destaca-se que os periódicos podem ser considerados como estruturas estruturadas e estruturantes do campo acadêmico/científico da Educação Física brasileira, pois são essenciais para o processo de validação e legitimação do capital científico dos agentes, ao mesmo tempo em que hospedam e expressam a disputas pela legitimidade do campo, são influenciados diretamente pelo habitus do campo e o modus operandi que lhe ordena. Neste cenário, fica evidente que o periodismo científico da Educação Física brasileira expressa as particularidades deste campo, especificamente a sua organização enquanto uma atividade conectada ao campo acadêmico/científico, suas disputas e lógica interna.

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