Resumo

Várias são as contribuições teóricas acerca do corpo, da ética e da estética, principalmente no campo filosófico. Contudo, um estudo que busque interfaces por meio do que denomino ?sentido ético-estético?, mais especificamente a partir do gestual popular, carece ainda de maiores investigações. Partindo dessa compreensão, a pesquisa tem por objetivo analisar o sentido ético-estético do corpo na cultura popular, identificando as relações dialógicas entre ética e estética que levam à estruturação do campo gestual em comunidades populares. Para tanto, tornou-se necessário compreender as relações histórico-filosóficas entre ética e estética; discutir o corpo como produto/produtor de cultura e meio de realização do sentido ético-estético; investigar como a ética leva à configuração estética do corpo na cultura popular e como esta mesma construção estética conduz a encaminhamentos éticos; perceber como se dá o sentido ético-estético em grupos de cultura popular, identificando possibilidades de estruturação gestual. Foram realizadas investigações teóricas por meio de incursões na história da filosofia e na antropologia, bem como desenvolvido um estudo do tipo etnográfico em comunidades de maracatu na cidade de Recife-PE. A pesquisa aponta que o corpo, como construção cultural, segue normatizações coletivas, instauradas por uma moralidade e uma estética construídas historicamente, transmitidas, pensadas e (re)significadas nos diferentes contextos sociais. Tais normatizações definem a convenção coletiva do uso dos gestos e das técnicas corporais próprias a cada comunidade de cultura popular. A construção do sentido ético-estético dá-se pelas regras de comportamento da comunidade, que conduzem ao delineamento de suas técnicas corporais e moralidade; pelos princípios e valores que caracterizam o que seja adequado e justo; pelo sentido de existência coletiva, preservação das tradições e religiosidade; pelas regras de competição impostas por setores externos; pelo jogo de conformismo e resistência que leva os populares a serem invadidos pela indústria cultural e a lutarem contra essa invasão; pela dinamicidade cultural e necessidade de reconhecimento social; pela denúncia às mazelas humanas. Tais reflexões identificam a existência de uma racionalidade diferenciada, distinta da lógica ocidental e que, por isso mesmo, parece estar à margem dela. É nesse sentido que este estudo talvez se constitua como uma forma de intervenção, sobretudo educacional; como possibilidade de olhar o ?outro? da razão 

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