Ode Sempre

Parte de O Futebol no Campo das Letras . páginas 32 - 34

Resumo

E ntro no avião pensando que aquele cara tem o dom de complicar tudo. É mestre em arrumar confusões com as coisas mais simples, onde ele mete a fuça aparece meleca. O cara é duma burrice ilimitada. Aliás, burro é pouco pra ele: é tapado mesmo, estú- pido até não poder mais. Além disso, é um covarde, qualquer apertozinho e ele já tá tremendo. Qualquer pressão de diretor ou treinador e ele começa a assinalar impedimentos atrasado, vacila nos laterais, apronta todas as trapalhadas possíveis, jogando pro buraco o trabalho sério que você tenta fazer. Posso ter a minha carreira arruinada por causa de um babaca desses. O diabo é que o Tenório sempre escala ele pra ser meu assistente; só pode ser pra me sacanear. Já falei um monte de vezes que o Plínio não dá, que compromete, mas o sacana do Tenório não quer nem saber. Todo fim de semana escala essa pustema pra bandeirar pra mim. O Clóvis até que é legal; meio sonso, liso, escorregadio, mas na hora do vamos ver dá pra confiar no que ele indica. Também é um sujeito que tem peito, sei que se alguém partir pra cima de mim ele vai dar cobertura, vai tentar me ajudar a livrar a cara. Não vai fazer que nem o escroto do Plínio que deu o maior vexame em um joguinho de juniores outro dia. Era o tipo da partida boba, sem muita importância. Lá pelas tantas um negão, massagista, sei lá, fez pressão pra cima dele, ameaçou chegar junto. O bambi do Plínio deu um pique tremendo pra correr do negão, praticamente foi se agarrar nuns meganhas que estavam na beira do campo, perto da bandeirinha de escanteio. Parecia uma gazela correndo, sacudindo aquela pulseirinha que ele usa ao lado do relógio. Não é à toa que o Moura sempre fala que o Plínio não engana não – aquilo ali é chegado mesmo é numa mandioca, aquele casamento dele é mera fachada, só entrou nesse negócio de futebol pra ter oportunidade de ficar conhecendo uns rapazinhos e ir armando os esqueminhas dele. 

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