Os Encontros Circenses Como Fruição do Lazer na Cidade
Por Olívia Cristina Ferreira Ribeiro (Autor), Jéssica Adriana Montanini Fernandes (Autor), Marco Antonio Coelho Bortoleto (Autor).
Resumo
Um dos desafios nas grandes cidades em relação ao lazer atualmente é o acesso aos espaços públicos e às vivências culturais a todos os cidadãos, os quais fazem parte do direito à cidade. No Brasil, acompanhando uma tendência internacional, uma forma de ocupação e apropriação dos espaços públicos para vivências de lazer que vem ocorrendo são os encontros circenses (FERNANDES, RIBEIRO e BORTOLETO, 2015). O objetivo deste estudo é discutir e refletir sobre esses encontros como possibilidades significativas de lazer na cidade. Para isso, realizamos uma pesquisa bibliográfica (LIMA; MIOTO, 2007), com ênfase em estudos recentes sobre esse tema. Cabe destacar que o circo tem se manifestado de diversas maneiras e, no caso brasileiro, após a década de 1990, houve o surgimento de convenções e outras formas de encontros que reúnem artistas e praticantes entusiastas, que buscam novos contatos e a troca de conhecimentos (BORTOLETO, 2016; DUPRAT, 2016; CONVENÇÃO BRASILEIRA DE MALABARISMO E CIRCO, 2016). Tais encontros são muito diversificados e disseminados por todas as regiões do país, têm durações variadas, em alguns casos com periodicidade semanal e, em outros, esporádica (RIBEIRO, BORTOLETO e FERNANDES, 2014). Nessas vivências de lazer ocorrem, entre outras coisas, o intercâmbio de conhecimento e o aprimoramento técnico-artístico. Nossos estudos mostram que os encontros semanais têm crescido em número e proporções em todo o país, mas é na região sudeste onde acontecem com maior ênfase. Estudos realizados na cidade de Campinas e na capital do Estado de São Paulo (FERNANDES, 2015a; 2015b, 2016) revelam, por exemplo, tratar-se de iniciativas geridas por grupos de pessoas voluntárias e são praticadas atividades como o malabarismo, equilibrismos (monociclo e na perna de pau), acrobacias (de solo, mão a mão) e até mesmo modalidades aéreas (tecido, trapézio, lira etc). Outras práticas têm sido observadas, como a de atirar facas e equilíbrios de objetos incomuns para essa finalidade (como bicicletas e instrumentos musicais, por exemplo), assim como a incidência regular de apresentações abertas (cabarés, mostras) e indicam que os encontros podem ser observados como espaços de experimentação artística também. A maioria desses encontros acontece em espaços públicos como praças, ruas, becos, pontes e até mesmo no interior de universidades públicas e sem o apoio do poder público (FERNANDES, 2015a; 2015b, 2017). Os encontros de circo reúnem pessoas de diversas classes sociais e gêneros, o público é composto fundamentalmente por artistas e entusiastas (novatos ou experientes), majoritariamente jovens ou adultos. Os encontros proporcionam uma interessante aproximação entre artistas experientes e iniciantes e contribuem com o direito ao lazer e à cidade. Parece-nos que por meio desses encontros as possibilidades de troca, de diálogos com diferentes opiniões e gostos, de conhecimentos e experiências sobre o circo são potencializadas, bem como o fomento do convívio social e de práticas culturais e de transformação desses espaços (FERNANDES, 2017).