Resumo

Parkour é a arte do deslocamento, uma forma de cultura corporal na qual se usa apenas a habilidade de se locomover por obstáculos de forma eficiente. Desde seu surgimento no final do século XX com David Belle e Sebastian Foucan, na França, esta prática se espalhou pelo mundo, quer seja pelas acrobacias mostradas em filmes no cinema, por vídeos na internet, ou então pelo desafio que proporciona ao tracer(praticante) que busca na superação dos limites o autoconhecimento, colocando-se a prova e desbravando a arquitetura das cidades, as praças e ambientes naturais. O objetivo desse estudo foi revelar o comportamento e a cultura dos praticantes, no 9º Encontro Paulista de Parkour ocorrido em Guarulhos – SP nos dias 25 e 26 de julho de 2015. A etnografia foi o método escolhido para compreender como se organizam e o que pensam as pessoas que convivem em grupos de Parkour. Os amigos são sempre citados como influência para iniciar nesta prática. Filmes e vídeos compartilhados nas mídias sociais também são atrativos para conhecer o esporte, verifica-se que este não é um começo tradicional para uma atividade esportiva, afinal, em geral o domínio das mesmas está no conhecimento de professores de educação física, o que não ocorre no Parkour. Outro aspecto relatado é o treinamento sem padronização ou controle, como se observa na maior parte das atividades físicas em academias, ou clubes. A criatividade é o roteiro do dia, mesmo com alguns tendo formação em educação física e anos de prática, o treinamento não segue padrões. Os laços de amizade entre os praticantes são fortes e os encontros pelas redes sociais são comuns, o aprendizado em grupo auxilia ainda mais no desenvolvimento daqueles que estão em processo de iniciação da modalidade, sendo que uma das regras é “passar adiante o conhecimento adquirido”. Há grande variedade de locais de prática como parques, praças e construções, numa revisitação da arquitetura da cidade através do corpo e do olhar sobre os objetos como desafios. Conclui-se que a superação de obstáculos desenvolve aspectos físicos como a força, a propriocepção, a agilidade, a percepção espaço/temporal e a velocidade como citado pelos sujeitos, mas que a transposição faz os tracers expandirem as possibilidades de movimento para horizontes como o compartilhamento de emoções, vivências, criações e sensações no sentido da sociabilização e da resistência ao comportamento padronizado da educação física.