Resumo

As cidades, segundo Canclini (2013) e Agier (2011), são heterogêneas por natureza, em suas múltiplas dimensões (cultural, social, econômica, política e ecológica); são multiculturais, multitemporais, colocam problemáticas complexas, favorecem encontros e aprendizagens e, simultaneamente, sediam exclusões, fechamentos. São Miguel Arcanjo, cidade da Região Metropolitana de Sorocaba, no interior do estado de São Paulo, com aproximadamente 31.450 habitantes, possui IDHM relativamente alto – índice de 0,710 – e é turisticamente reconhecida pela presença de atrativos ecológicos, contabilizando fluxo em torno de sessenta mil turistas/ano (IBGE, 2010; IPEA, 2010; PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL ARCANJO, 2017). A impossibilidade de apreender uma cidade em sua totalidade, face à diversidade e pluralidade imanentes, franqueia diferentes análises, optando-se por desvelar de que forma “[...] as pessoas fazem a cidade” (AGIER, 2011). A faculdade de planejar, erigir e intervir em espaços urbanos, de forma a privilegiar usos públicos e acesso ao lazer como direito social, para Pacheco e Raimundo (2014), atrela-se à definição de projetos que os considerem como espaços profícuos à reflexão sobre a cidade e cidadania, tendo em vista o relevante papel do lazer no desenvolvimento crítico, criativo e livre dos cidadãos. Sob esta ótica e pautadas pelo uso do método dedutivo, da metodologia de estudo de caso, das técnicas de pesquisa bi-bliográfica, documental (“Inventário Turístico” e “Plano de Desenvolvimento Turístico”) e entrevistas com agentes políticos vinculados à Prefeitura Municipal de São Miguel Arcanjo, buscou-se investigar a oferta de espaços e equipamentos de lazer na cidade, com a respectiva categorização destes segundo tipologias propostas por Santini (1993) e Stucchi (1997), agrupados em espaços e equipamentos específicos (espe-cializados, polivalentes, polivalentes grandes e equipamentos de turismo) e não específicos, assim como analisar os interesses culturais, por estes, passíveis de estímulo, segundo considerações de Dumazedier (1980). Os resultados apontam a existência de nove espaços/equipamentos de caráter específico: quatro classificados como especializados (dois estabelecimentos rurais dedicados à pesca amadora, e dois es-paços para eventos – espaço de exposições e casa noturna), além de quatro polivalentes (RPPN Parque do Zizo; RPPN Parque Taquaral; Parque da Onça Parda; Parque Municipal Lagoa do Guapé) e um poliva-lente grande (Parque Estadual Carlos Botelho). O número expressivo de espaços e equipamentos de lazer, contudo, integra a tipologia não específicos, a saber: cinco estabelecimentos rurais vinícolas; quarenta e oito estabelecimentos vinculados ao segmento de Alimentos & Bebidas; doze estabelecimentos de hospe-dagem; e duas bibliotecas (uma dedicada à história da imigração japonesa – Biblioteca Japonesa Tosho--Kan). Considerando os interesses/conteúdos culturais do lazer – sociais, físicos, intelectuais, manuais, artísticos e turísticos –, constata-se que a oferta de lazer concentra estímulos ao desenvolvimento de conteúdos físicos, sociais e turísticos, fomentando, em princípio e com limitações, competências e habili-dades relacionadas aos conteúdos intelectuais, manuais e artísticos, imprescindíveis ao desenvolvimento da consciência histórica, da expressão criativa, das dinâmicas culturais, de processos de interpretação patrimonial, entre outros. Por fim, nota-se oferta, sobretudo, ligada às iniciativas e atuação de agentes privados, situação que explicita limitações na oferta e uso de espaços públicos urbanos, que potencial-mente impactarão o amplo desenvolvimento sociocultural de cidadãos e turistas.