Resumo

Reflete sobre a presença dos estudos nos/dos/com os cotidianos no campo da Educação Física (EF). Compreendendo essa perspectiva como um movimento que, gestado no campo mais amplo da Educação, busca outros modos de olhar para a escola e aquilo que nela se produz, diferenciando-se, portanto, das pesquisas convencionais acerca deste cotidiano (FERRAÇO, 2001). Entende que a incorporação desta corrente investigativa é reflexo da pluralidade de referenciais que passou a se fazer presente na área, expressando, particularmente, aspectos daquelas produções que buscam oferecer no âmbito da pesquisa pedagógica caminhos alternativos para os problemas decorrentes de uma relação hierarquizada entre os fazeressaberes escolares e os conhecimentos acadêmicos. Situa a peculiaridade dessa perspectiva em aspectos como: a assunção de uma postura política de defesa/aposta no cotidiano; a radicalização de uma epistemologia do cotidiano; e, ainda, a descontinuidade com as metodologias de pesquisa clássicas. Problematiza, a despeito de qualquer concordância com parte do diagnóstico crítico que motiva a adoção desses pressupostos teórico-metodológicos na EF, a maneira como as variações sugeridas têm se materializado nas ações de pesquisa efetivadas, bem como nas produções e propostas encaminhadas. Examina a hipótese de que a tentativa de renovação promovida pode acarretar implicações na construção de uma teorização pedagógica em EF, principalmente, em função de uma postura que parece prescindir da adoção de referentes normativos mais amplos para a análise dos cotidianos escolares. Metodologicamente opera um estudo teórico, pautado numa pesquisa de tipo estado do conhecimento realizada nos campos da Educação e da EF (FERREIRA, 2002). Mapeia e analisa, em relação à EF, os trabalhos publicados nos Anais do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE), no período de 2007 a 2017, e as publicações de cinco periódicos dedicados à temática da EF escolar. Constrói categorias de análise que, visando tematizar as configurações da pesquisa nos/dos/com os cotidianos na e da EF, tangenciam aspectos como as particularidades do fazeressaberes visibilizados, destacando seu potencial para a construção de uma teoria pedagógica da EF. Dialoga com alguns conceitos presentes nas obras de Axel Honneth e Hannah Arendt, elegendo as noções de reconstrução normativa e crítica imanente (HONNETH, 2015) e natalidade (ARENDT, 2009) como chaves de leitura. Defende a tese de que o tipo de produção do conhecimento observado nas pesquisas nos/dos/com os cotidianos da EF pode ser geradora de uma espécie de déficit na teorização pedagógica da disciplina, principalmente, em função da ausência de uma caracterização do trabalho empírico que esteja comprometida com um esforço de contextualização das práticas investigadas em seus aspectos institucionais. Fundamenta essa tese ao apontar a contradição existente entre a proposta de uma teoria das práticas da perspectiva em questão e as fragilidades derivadas da maneira como os fazeressaberes são evidenciados, no sentido de não viabilizar, de forma consistente, a construção de outros modos de legitimar a EF escolar. 

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