Resumo
O objeto deste trabalho, para além de resgatar a história do tempo presente dos documentos que hoje normalizam a formação em Educação Física no Brasil, é a organização curricular dos cursos superiores após a publicação das Resoluções CNE/CP 01 e 02 de 2002 e 07/2004, tendo como questão central os efeitos políticos destes textos, particularmente para a formação de professores e bacharéis, na implantação ou reforma de seus currículos. Para tanto, traçamos como objetivo analisar os projetos pedagógicos de cursos de Educação Física buscando identificar os traços hegemônicos que configuram a política de formação na área, a partir da análise: do objeto que trata a Educação Física; do perfil do egresso; da matriz curricular; e, das ementas dos componentes curriculares. Ao considerar a extensão do campo empírico, decidimos por analisar, no município de Vitória-ES, os Projetos Pedagógicos de três instituições que possuem quatro cursos. Nossa análise partiu da compreensão de que tais documentos não estão desligados dos movimentos da própria sociedade civil e política e dos interesses de produção da hegemonia, e, por consequência, da centralidade da formação humana. Para tanto, utilizamos as categorias totalidade, historicidade e contradição para a aproximação com o objeto de estudo. Os conceitos fundamentais utilizados para a compreensão do fenômeno investigado foram: hegemonia e bloco histórico referenciados na obra gramsciniana e a política curricular como texto, nos escritos de João Manoel Paraskeva. Ao compreender que a definição da política curricular é parte da estratégia de produção da hegemonia do bloco dominante, concluímos que as Diretrizes Curriculares se constituem em textos normativos, instrumentalizadores, referências para a produção das propostas curriculares, sendo a expressão das intenções hegemônicas na sociedade. Entre 1931 a 2004, tanto os Currículos Mínimos como as Diretrizes Curriculares configuraram-se em roteiros de adaptação que garantiram a hegemonia no processo formativo do campo acadêmico profissional, por meio de um núcleo de conhecimentos e que este não tem se modificado significativamente, a não ser por ênfases em determinadas áreas do conhecimento ou por atualizações e da presença de parcela da área, por interesse na hegemonia do campo, na constituição do bloco dominante.