Resumo

A escola, fundada no dualismo corpo-mente, priorizou uma educação cognitivista baseando-se na tradicional compreensão da inteligência como uma condição unitária, hereditária e localizada no cérebro. A ?incapacidade inata?, diagnóstico comum para aqueles que obtinham baixos resultados em testes que hipoteticamente mensuravam a inteligência, surtiu efeito negativo no futuro escolar e social e, reforçou durante muitos anos, que as dificuldades de aprendizagem destas pessoas estavam relacionadas apenas as causas genéticas. A partir da década de 1980, as discussões sobre este assunto foram intensificadas, particularmente pela Teoria das Múltiplas Inteligências de Howard Gardner. Baseada na literatura recente sobre o processo de ensino-aprendizagem, na teoria de Gardner e, na perspectiva da corporeidade fundamentada por Merleau-Ponty, esta tese visa estudar as possibilidades corporais como expressão da inteligência humana, indo além da mensuração da inteligência nas expressões verbais e lógicas. A trajetória histórica que influenciou nosso modo de perceber a inteligência foi reconstruída com base em algumas questões: Como será que o professor, em pleno século XXI, identifica as inteligências de seus alunos? Quais rotas de acesso são utilizadas para que o aluno possa demonstrar o que aprendeu? Esta pesquisa qualitativa de abordagem fenomenológica, utilizou a análise do fenômeno situado (Martins e Bicudo, 2005) para observar a aprendizagem dos alunos numa classe de primeira série, numa instituição pública estadual de Ensino Fundamental, na cidade de Campinas-SP com o objetivo de desvelar o comportamento inteligente no momento em que ocorre a aprendizagem, tendo como foco de análise também as estratégias e intervenções utilizadas pela professora polivalente e a de Educação Física. As observações foram analisadas em três momentos: descrição, redução e interpretação. As duas professoras também foram entrevistadas com o propósito de conhecer os conceitos que permeiam a ação docente. A entrevista foi organizada em torno de perguntas geradoras relacionadas à questão da inteligência, às estratégias pedagógicas, avaliação e dificuldades de aprendizagem. As reflexões levantadas buscam contribuir com o debate atual sobre dificuldades de aprendizagem e colocam em pauta a negligência da escola com as múltiplas inteligências. Defende-se que uma percepção mais ampla dos professores sobre a inteligência dos alunos pode ampliar a responsabilidade social e ética de um modo transdisciplinar, expandindo a compreensão da aprendizagem do campo das dificuldades para o campo das possibilidades.

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