Resumo

No âmbito da Educação Física Escolar, o currículo cultural analisa as diferentes manifestações da cultura corporal, problematizando as relações de poder e os marcadores sociais. Ao questionar a hegemonia das práticas corporais e os significados dos grupos privilegiados, tenta promover uma pedagogia libertadora e favorável à diferença. Baseado na perspectiva da diferença como a própria riqueza da sociedade e na constituição de uma docência atenta à diversidade cultural, busca dialogar com o Projeto Político Pedagógico da escola, reconhecendo e valorizando o patrimônio da comunidade como estratégias para eleição dos temas de ensino. Considerando os aspectos históricos excludentes do currículo, os que possuem uma prática culturalmente orientada pensam a facilitação do processo de desconstrução de estereótipos que causam tanto sofrimento àqueles que não se enquadram nos padrões culturais engessados da sociedade, tentando desenhar currículos baseados no reconhecimento das experiências marginais. Sendo assim, o presente estudo busca identificar como acontece a intervenção de professores de Educação Física que atuam no Colégio Pedro II e afirmam tentar promover aulas culturalmente orientadas. Metodologicamente, iniciamos com um questionário com o maior número de professores, cujos dados foram submetidos à análise de conteúdo categorial temática de Bardin (2011). Posteriormente, adotamos a entrevista com perguntas semiestruturadas com 5 professores selecionados e observamos 5 aulas de cada um deles. Subsequentemente, confrontamos os dados oriundos das transcrições das entrevistas e das anotações do diário de campo com a literatura e os discutimos a partir da análise cultural, objetivando problematizar e confrontar os resultados. Negando qualquer tentativa de fechamento, sistematização ou criação de fórmulas replicáveis, acreditamos que os dados deste estudo representam mais um passo na direção de discussões e ressignificações de práticas culturalmente orientadas, com subsídios que talvez possam contribuir para a atuação, formação inicial e continuada de professores ao apontar possibilidades, limitações e exemplos de ações didáticas do cotidiano, com informações que podem auxiliá-los na aplicação pedagógica de aulas em uma perspectiva mais inclusiva e democrática. A investigação reconhece que os estudantes interagem criticamente diante das ações docentes e que é essencial a tematização de práticas corporais nas aulas. Identifica também que ações culturalmente orientadas tendem a atribuir sentido e significado ao processo de ensino e aprendizagem. Quanto à avaliação, percebemos que os professores se utilizam de critérios que não visam a classificar os estudantes, principalmente quanto a sua performance motora, considerando, por exemplo, a participação crítica nas aulas e a autoavaliação. Acreditamos que essa mudança paradigmática se deu em virtude da adoção de um currículo que transitou de uma perspectiva desenvolvimentista para uma cultural. Nesse sentido, a ressignificação da Educação Física ficou evidente em algumas situações didáticas observadas. Concluímos, portanto, que o currículo cultural se apresenta como um possível caminho de mudança e ressignificação.

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