Resumo
A Educação Física Escolar (EFE), desde o final da década de 1980, apoiou-se nas Ciências Humanas para propor concepções mais comprometidas com a transformação social, superando a visão biologicista da área. Entretanto, as pesquisas demonstram que, a despeito da produção acadêmica e do currículo cultural vigente na rede pública estadual, a representação dos professores sobre a área e a prática pedagógica pouco se modificaram. Algumas hipóteses podem ser formuladas para explicar essa cristalização, entretanto, neste trabalho, propomo-nos a investigar os componentes presentes nos processos de subjetivação e cartografá-los, na pretensão de que a compreensão das estratégias de formação do desejo no social indique os enquadramentos dessas cristalizações. Para confecção desses mapas foram sujeitos desta pesquisa, nove professores da rede pública estadual, divididos em três categorias: os que optaram pelo curso de licenciatura no ingresso da formação inicial e participaram do curso de ingressantes, bem como da pós-graduação oferecida pela Secretaria da Educação, para apropriação dos pressupostos teóricos do currículo (PLPO); os que obedecem aos mesmos pré-requisitos, com exceção da pós-graduação (PL) e os graduados até 1995, com Licenciatura Plena (PLP). Dessa maneira, pretende-se elucidar se as possíveis rejeições/adesões ocorrem, em certa medida, pela falta de apropriação do currículo e/ou pelo período em que a formação inicial ocorreu. Além destes, um coordenador pedagógico, uma diretora e uma assessora que ministrou capacitações aos professores de EFE, na rede estadual, na década de 1980 foram entrevistados, a fim de auxiliar na compreensão de alguns contextos que emergiram durante a pesquisa de campo. Esta pesquisa tem caráter exploratório e natureza qualitativa, sendo a cartografia de Deleuze e Guattari o método analítico eleito para a investigação dos processos de subjetivação, entremeada pela História de Vida dos entrevistados e da produção de autores que tratam da construção das identidades, considerando sua dimensão processual, como Alberto Melucci. Depreendemos das análises das diversas imagens oferecidas pelos entrevistados, que a política de subjetivação construída, desde a origem da EF no Brasil, foi reforçada ao longo da história, seja pelo esforço em manter a hegemonia, seja pela ineficiência dos processos de implementação curriculares. Forma-se, assim, uma cartografia perversa de sujeitos fragmentados que, por um lado, estão em paz com a identidade construída, mas que por outro, tem de conviver com o esgotamento dessa identidade no ambiente escolar. Os processos de singularização a que buscamos não serão disparados por documentos curriculares e imposições legais, os dados aqui coletados indicam que a consideração e reconstrução da dimensão desejante desse professor deve ser o ponto de partida para novas paisagens na EFE.