Resumo
A presente pesquisa analisa como são desenvolvidas práticas corporais afro-brasileiras em uma comunidade quilombola no Paraná e como elas se constituem em ações de intervenção social. Especificamente, foi necessário: a) fomentar reflexões sobre a condição do ser "quilombola", identificando como ocorrem práticas corporais afro-brasileiras na comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha, em Guarapuava-PR; b) entender o processo de construção de práticas corporais afro-brasileiras pelos quilombolas integrantes da Cia. de Música e Dança Afro Kundun Balê; c) verificar como as práticas corporais afro-brasileiras realizadas pelo grupo estudado configuram-se como ações de intervenção social. Com base em orientações da etnografia, a pesquisa foi desenvolvida junto a atores sociais da comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha e, notadamente, junto aos membros da Cia. de Música e Dança Afro kundun Balê. A coleta de dados ocorreu em quatro fases, durante os anos de 2010 a 2011, totalizando 50 dias de imersão em campo. Como técnicas de coleta para a captação de informações foram utilizados registro imagético (filmagens e fotografias), observação, entrevista semi-estruturada, e anotações em diário de campo. Constatamos, com a pesquisa, que a condição de "ser quilombola" não se dá pela cor da pele, mas pela herança de exclusão e barbárie a que foram submetidos os quilombolas e seus descendentes. As práticas corporais afro-brasileiras que integravam essa história foram ofuscadas por outros modos de expressão da vida e da religiosidade, sendo carentes no cotidiano do Paiol de Telha, limitando-se às ações realizadas por membros da Cia. de Música e Dança Afro Kundun Balê e auxiliares. O trabalho desenvolvido por esse grupo constitui-se em modo de formação humana de jovens e adolescentes por meio da arte, de intervenção na comunidade a partir de ações de conscientização da condição de ser quilombola e da necessidade de retomar práticas corporais afro-brasileiras, sendo aceito e também repudiado por seus vínculos com o candomblé. Seu papel, para além da comunidade, tem sido de levar a cultura afro-brasileira a diferentes espaços sociais, fomentando consciência crítica e política em relação ao modo de existência quilombola, requerendo ações que tragam intervenções diretas no Paiol de Telha no sentido de seu desenvolvimento e melhoria das condições existenciais das pessoas que ali vivem.