Resumo
No campo acadêmico-científico, são poucos os trabalhos que discutem a mediação pedagógica da Educação Física com crianças em tratamento oncológico. Buscando superar essa lacuna, este trabalho tem como objeto de estudo as práticas pedagógicas de um projeto de extensão universitária chamado Projeto Brincar é o Melhor Remédio (PBMR), que, por meio de jogos e brincadeiras, atende a esse público-alvo. São objetivos da pesquisa: 1) analisar as especificidades do campo da Pedagogia Social para a mediação pedagógica com crianças em tratamento oncológico; 2) compreender os desafios para o trabalho interdisciplinar com os jogos e as brincadeiras em uma instituição que possui diferentes profissionais e áreas do conhecimento; 3) discutir a organização do trabalho pedagógico para a mediação da Educação Física com crianças em tratamento oncológico, considerando as agências, o protagonismo e as produções culturais desses sujeitos. Trata-se de uma Pesquisa-Ação Colaborativa, que concilia, de modo indissociável, a produção de conhecimentos e a formação de professores. O período da pesquisa foi de dez meses (presencial), entre março e dezembro de 2019, totalizando 68 mediações pedagógicas e de quinze meses (remoto/presencial), entre abril de 2020 e junho de 2021, totalizando 54 produções. Os sujeitos da pesquisa foram 61 crianças em tratamento oncológico, entre 4 e 16 anos de idade, atendidas pela Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI), 26 familiares e 18 profissionais da equipe multidisciplinar da instituição (sete da Educação Física, seis do Serviço Social, uma da Fisioterapia, uma da Nutrição e três da Pedagogia). Os dados foram produzidos por meio de diferentes instrumentos: observação participante, imagens iconográficas, enunciações e produções de materiais pedagógicos realizados pelas crianças. Os registros foram anexados em diário de campo e inseridos no portfólio do projeto. O processo de análise e interpretação dos dados foi desenvolvido em diálogo com os pressupostos que orientam a pesquisa e com as práticas cotidianas desenvolvidas pelo PBMR. Os dados apontam para a necessidade de uma concepção de infância e de jogos e brincadeiras que reconheça e valorize as crianças e seu direito inalienável de brincar. O campo da Pedagogia Social ratifica a necessidade de práticas pedagógicas intencionais, com objetivos e metodologias, em que há ações interdisciplinares e em construção com as crianças, valorizando o tempo infantil por meio de seus desejos e necessidades.