Resumo

As matrizes e motrizes africanas da Capoeira vem sendo compreendidas por autoras(es)  dessa manifestação cultural, numa perspectiva interdisciplinar, colocando em diálogo aspectos históricos, ancestralidade e Educação Física, como Soares (1993; 1998), Pires (1996; 2001), Assunção e Peçanha, (2008); Desch-Obi (2008); Pasqua, Rosa, Bortoleto (2023) e Kabwenha, (2024). E numa perspectiva similar, com ênfase no viés artístico, pela exploração do corpo, do movimento e significados da ginga, como Silva (2008); Castro Júnior (2010); Tavares (2012), Rosa (2015); Pasqua (2011, 2020) e Pasqua e Toledo (2018, 2019, 2021). O objetivo desta pesquisa, parte de outra maior em nível de doutorado, foi identificar e compreender os processos migratórios, a partir da análise de mapas da escravidão e o impacto do entendimento desse corpo ancestral para pensar a Educação Física.  Trata-se de uma pesquisa documental, de abordagem histórica (Veyne, 2008; Revel,1998), a partir da obra: "Atlas do tráfico de escravos do transatlântico”  (Eltis e Richardson, 2010), que apresenta cerca de 200 mapas, fundamentado numa base de dados com aproximadamente 35.000 viagens de pessoas capturadas, correspondentes a 80% das viagens de tráfico já realizadas. Os mapas demonstraram quais nações participaram do comércio de escravizados, os locais nos quais os navios envolvidos foram “equipados”, lugares nos quais os cativos subiram à bordo do navio e onde desembarcaram nas Américas, bem como, a experiência da viagem transatlântica e as dimensões geográficas da eventual abolição do tráfico. Foram analisados sete mapas: A) mapa 1 (no. 16), sobre o tráfico de 1526-1867, um mapa que ilustra a situação geral do tráfico de escravos realizado por Portugal e pelo Brasil, mostrando todas as regiões africanas envolvidas no comércio; B) mapas 2, 3 e 4 (respectivamente no. 38, 39 e 40) dos períodos de 1642 a 1807, para os portos das regiões de Recife, Bahia e Rio de Janeiro. Vale ressaltar que de 1630 a 1654 o Recife havia se tornado a base de tráfico de escravos da Holanda, período em que essa região do país estava sob domínio holandês; C) mapas 5, 6 e 7 (respectivamente no. 48, 49 e 50), do período de 1808-1856, para os portos das regiões de Recife, Bahia e Rio de Janeiro, que ilustram o final do período de tráfico de escravos para o Brasil. Assim, foi possível expandir o olhar para a complexidade de rotas ocorridas durante o tráfico negreiro e a quantidade de nações envolvidas, nesta pesquisa com destaque à Portugal, Angola, Costa do Marfim, Martinica e Brasil, o qual focamos para analisar a recuperação e reinvenção de saberes. As influências destes movimentos migratórios se deram de diferentes formas, e não somente na gestualidade de suas práticas corporais, mas, sobretudo, num modo de fazer a partir de outras concepções estéticas. Nesse sentido de recuperation-cum-invention, Rosa (2015) desenvolve o conceito de estética da ginga, sendo o corpo carregado de códigos culturais determinando coreografias de identificação da negritude. Ao refletirmos sobre o ensino da Capoeira na Educação Física, além de seus fundamentos, enfatizamos que a história e a ancestralidade também são partes fundamentais para pensar a ancestralidade, com a presentificação de um corpo polissêmico e polirrítmico, a criatividade e despadronização de movimentos.

Acessar