Resumo

O projeto de investigação e recriação artística, Dimensão, surgiu em 2019, da necessidade de questionar a presente colonialidade, com a expressão da corporalidade marcadas na relação entre o Brasil, Benim e Portugal. Neste questionamento deparámo-nos com o conceito “Corpo Arquivo” como o primeiro dos arquivos, onde se inscreve a genética e se acumulam e renovam experiências duma vida (Tércio, 2017). Na análise deste conceito, no que concerne ao nosso objeto de estudo, diversas questões foram-se levantando “Como as memórias de um passado histórico estão inscritas nos corpos dançantes destes países?”, “Como faz um corpo, o arquivo de todas as informações herdadas e aprendidas, e se expressa através da dança?” e “Teremos marcados nas memórias dos nossos corpos, consciente ou inconscientemente, visões e atitudes racistas e colonizadoras?” A proposta deste artigo é refletir sobre como funcionam e se expressam as memórias desta história, nos corpos dançantes socialmente informados pela prática performativa (Bourdieu, 2009), numa multiplicidade dos aspetos inerentes ao corpo, nas dimensões motora, social, cultural, simbólica e espiritual. A metodologia assenta no trabalho de campo realizado no Benim, Brasil e Portugal, entre 2019 e 2022, no âmbito de uma pesquisa de doutoramento em Dança na Faculdade de Motricidade Humana. A análise dos dados para esta publicação fundamenta-se na observação direta e indireta em laboratórios de formação e criação artística e na aplicação de entrevistas semiestruturadas aos bailarinos, coreógrafos e professores de dança beninenses, brasileiros e portugueses que participaram nesses laboratórios. Os laboratórios estavam inseridos nos projetos artísticos e de formação: Dimension, Ali-Klan, Wè-AtonDokpô, Olokum, Farisogo Sira, estágios “Une autre façon de découvrir la danse” e "Reencontro Culturais e Artísticos". As entrevistas foram realizadas aos bailarinos e coreógrafos do Ballet Nacional do Benim (Guillaume Niedjo, Coffi Allade, Marcel Zounon e Denisa Ishola), ao coreógrafo beninense Vincent Harisdo, aos bailarinos e coreógrafos brasileiros da Cia Pé no Mundo (Claúdia e Roges), Luiz Anastácio e Jorge Cipriano e às bailarinas e coreógrafas portuguesas Catarina Alves e Teresa Fabião. Para melhor estudar as perceções de corpos culturais corporificados nos estudos pós-coloniais, baseámonos em estudos da dança que trazem para os estudos culturais uma dimensão de reconhecimento da pluralidade de formas de conhecimento, promovendo o diálogo entre os saberes e a descolonização de formas de pensar hegemónicas (Santos, 2006).

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