Resumo

A desnutrição nos primeiros anos de vida, refletida por indicadores antropométricos do estado nutricional, é um dos maiores problemas de saúde enfrentado por países em desenvolvimento. O tecido muscular esquelético é sensível à desnutrição proteica por ser um reservatório de proteína no organismo. Quando há déficit proteico na dieta, este tecido torna-se alvo de depleção, ocasionando alterações nas fases de crescimento e diferenciação das fibras musculares. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo analisar a evolução da regeneração muscular após criolesão no músculo tibial anterior de ratos jovens desnutridos e recuperados. Foram utilizados 40 ratos da linhagem Wistar, divididos em 2 grupos: Nutrido (N, n=20 ), receberam dieta normoproteica (14% de proteína) por 90 dias; e o Desnutrido Recuperado (DR, n=20), submetidos a duas fases nutricionais, correspondendo a 45 dias de desnutrição com dieta hipoproteica (6% proteína), seguida por 45 dias de dieta normoproteica (14% proteína). Ao completar a fase de recuperação, todos os animais foram submetidos à criolesão no músculo tibial anterior direito e posteriormente divididos aleatoriamente em 6 subgrupos (n=5), para melhor avaliação da resposta tecidual: Grupo Nutrido Lesado (NL) 7, 14 e 21 dias; e Grupo Desnutrido Recuperado Lesado (DRL) 7, 14 e 21 dias. Para análise morfológica foram utilizados apenas os animais 14 dias (NL, n=5; DRL, n=5) e para análise bioquímica foram utilizados todos os tempos (NL, n=15; DRL, n=15). O músculo tibial anterior foi retirado para análise da área de secção transversa (AST), quantificação de tecido conjuntivo (TC), área de inflamação /regeneração (microscopia de luz) e verificação do conteúdo das proteínas MyoD e Miogenina e da citocina TGF-1 (immunoblotting). A avaliação dos dados foi realizada através do programa Bioestat. Para comparação entre os grupos nos diferentes tempos foi aplicado o teste de análise de variância (ANOVA) one way, seguido de Tukey-Kramer. Para outras análises foi utilizado o teste t Student . Em todos os casos foi adotado um valor de p<0,05 para significância estatística. O grupo DR apresentou menor massa corporal e menor consumo alimentar no processo de desnutrição, quando comparado ao grupo nutrido (p<0,05). A quantidade de tecido conjuntivo e a área de inflamação 14 dias pós-lesão foi maior no grupo Desnutrido Recuperado Lesado (DRL) (p<0,05). A AST das fibras regeneradas do grupo DRL foram menores quando comparadas às fibras normais (controle) do mesmo grupo, sendo esta redução estatisticamente significante (p<0,05). No grupo Nutrido Lesado (NL), as fibras regeneradas pós-lesão atingiram 88% do seu controle, não sendo observada diferença estatística significante. Na comparação entre os grupos (DRL e NL) nota-se que a AST foi menor no grupo DRL (p<0,05). O conteúdo das proteínas MyoD e Miogenina foi maior no grupo NL. A citocina TGF-1 não apresentou diferença entre os grupos. Conclui-se que o protocolo proposto de desnutrição pós desmame e recuperação nutricional por dois meses foi eficaz para demonstrar alterações no processo de regeneração do músculo tibial anterior de ratos jovens. Observou-se atraso no reparo muscular, com aumento da área de inflamação e porcentagem de tecido conjuntivo, redução da área de secção transversa das fibras musculares, redução do conteúdo de MyoD e miogenina. O conteúdo de TGB- 1 não foi alterado com a restrição alimentar.

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