Religião e Ensino Público: as Interferências de Questões Religiosas nas Aulas de Educação Física
Por N. C. P. Sousa (Autor), D. A. C. F. Hunger (Autor).
Resumo
Nas últimas décadas, muito se tem discutido a respeito de fatores que interferem na educação formal. Questões como violência, participação familiar e políticas educacionais estão em evidência, talvez até mais que os conteúdos desenvolvidos pelos professores no cotidiano das escolas. Motivada por essas discussões e pelo que observo no dia-a-dia das aulas em escolas públicas em Bauru/SP, estipulei como objetivo da presente pesquisa discutir as interferências da questão religiosa no contexto educacional, mais especificamente nas aulas de Educação Física. Para tanto, levantou-se material bibliográfico sobre o tema e, após autorização da Diretoria de Ensino, e com a colaboração da docente que ministra um curso sobre "dança na escola", participei de três aulas/reuniões, nas quais se discutiu a temática proposta, seguindo um roteiro de questões norteadoras, com a participação de, em média, trinta professores (formação em Educação Física, Arte e Pedagogia). Essas reuniões foram filmadas e transcritas, para posteriormente serem analisadas à luz da literatura sobre o tema. Por meio dos relatos e da análise inicial evidenciou-se que os professores percebem a presença de diferentes crenças religiosas na escola, partindo tanto de alunos, pais, quanto da própria equipe gestora. Enfatizaram que, em algumas situações, a interferência direta acontece pela proibição da participação dos alunos nas atividades, em específico os conteúdos de ritmo e dança. Em outros casos, citaram vestimentas exigidas por algumas religiões que não permitem determinados movimentos e também pode limitar a participação dos alunos. Foram explicitados também casos de nítido preconceito, tendo como alvo alunos adeptos de religiões com matriz africana. Mediante o exposto, evidenciouse a necessidade de aprofundamento nesta discussão, uma vez que a escola pública, por princípio, não deve impor a seus alunos nenhuma matriz religiosa específica e, seguindo esse raciocínio, os conteúdos propostos pelos professores não deveriam sofrer sanções dessa natureza. Outra reflexão proposta seria sobre o desenvolvimento da disciplina "ensino religioso", que de tempos em tempos consta no currículo das escolas públicas e tem como objetivo principal fomentar reflexões sobre religiosidade, compreender o fenômeno religioso, abordando, inclusive, a história das religiões, de maneira imparcial (catolicismo, protestantismo, espiritismo, religiões africanas etc). No entanto, se percebe que a crença religiosa dos professores que ministram essa disciplina interfere no conteúdo desenvolvido.