Resumo

Nas últimas décadas, a História da Educação brasileira ganhou relevância, com crescente produção de pesquisas; o que tem possibilitado responder de forma mais adequada, o questionamento: por que a escola ensina o que ensina. Durante a ditadura militar (1965-1985), o sistema básico de educação, passou por muitas modificações, que ainda carecem de estudos mais aprofundados. É conhecimento disseminado a generalização de que o discurso político utilizava os grandes jogos desportivos internacionais e a cultura de uma disciplina corporal, como propaganda política, no intuito de elevar o espírito ufanista e de mascarar a censura a imprensa e a perseguição política, o que efetivamente refletia na docência da Educação Física da época. Assim, esta pesquisa objetiva reconstituir a história do ensino escolar da Educação Física, examinando as normas, a configuração dos saberes e indícios de práticas no interior de escolas, na transição educacional do ciclo ginasial para 5ª a 8ª séries, entre 1964 e 1985. O contexto escolhido foi a cidade portuária de Santos (SP), que sofreu intervenção federal. Enquanto o ensino primário santista era ofertado pelo Estado, o aparecimento do ensino secundário foi inicialmente feito por escolas particulares ligadas à igreja. Somente na década de 1930, que houve a construção de escolas públicas para este fim; como o Ginásio Estadual “Canadá”, apresentado neste estudo. Por toda a década de 1960, houve a expansão do ensino, com a criação de outras escolas que atendiam o ensino secundário. Sendo que essa investigação destacou o Ginásio Estadual do “Maracanãzinho”. O referencial metodológico utilizado emergiu da História das Disciplinas Escolares, desenvolvida com base em pesquisa documental e bibliográfica. Nessa perspectiva foram examinados documentos históricos de formação e profissionalização docente, legislação, materiais didáticos, registros escolares e indícios de práticas no interior dos ginásios. Além da descrição, a análise foi feita a partir de repetidas leituras e reescritas, visando um aprimoramento na identificação, diferenciação, compreensão e correlação com o referencial teórico. Com o estudo pretendemos desmistificar valores perpetuados que relacionam a escolarização da Educação Física à ideologia da ditadura militar, ideário que também precisa ser revisto e arejado por documentação original, à luz de teorias mais adequadas. Defendemos a tese de que no período compreendido entre 1964-1985, houve uma confluência de elementos relevantes para a escolarização da Educação Física, como a obrigatoriedade e a incisiva prescrição; um maior incentivo à atuação dos órgãos de fiscalização, no caso a Divisão de Educação Física (DEF) e o Departamento de Educação Física e Esportes paulista (DEFE); a expansão do ensino, aquecendo e implementando verbas no mercado da formação superior e profissionalização docente em geral e, específica em relação à área; o desenvolvimento de pesquisa e do campo acadêmico, acompanhando o foco mundial nos desportos; o registro da práxis transformando-o em conhecimento formal e a ressignificação e reinvenção do cotidiano escolar pelos sujeitos educacionais, frente a todas essas vicissitudes. Palavras-chave: Educação. Educação Física. Ditadura militar. Práticas de ensino. Saberes escolares

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