Saúde Mental e Lazer Entre Estudantes Universitários do Interior Paulista
Por Júlia Lelis Vieira (Autor), Maria Cristina Pereira Lima (Autor).
Resumo
Diversas publicações têm mostrado prevalências elevadas de sofrimento psíquico entre estudantes da área da saúde. Além de identificar prevalências maiores do que aquelas observadas na população geral, também tem sido apontado que o pouco tempo livre e a falta de lazer estariam entre os fatores de risco. Este estudo visou identificar as atividades vivenciadas no âmbito do lazer, entre estudantes de Enfermagem, Medicina e Nutrição de uma Universidade do interior Paulista, e também investigar sua associação com a presença de transtorno mental comum (TMC) nestes grupos de universitários. Trata-se de um estudo transversal, parte de uma dissertação de mestrado. A coleta de dados se deu por meio da aplicação de um questionário estruturado e anônimo em salas de aulas e salas de atividades. O questionário era composto de perguntas para investigar variáveis sociodemográficas e sobre o lazer, contendo também os seguintes instrumentos: escala de apoio social, Self-Report Questionnaire (para identificar TMC) e Alcohol Use Disorders identification Test (para identificar uso de risco de álcool). A variável dependente foi a presença de TMC, sendo lazer a principal variável explanatória. Após a análise univariada foi feita análise multivariada por meio da construção de modelos de Regressão Logística, considerando significativas quando p≤0,05. Entre os alunos, 62,9% relataram insatisfação com o tempo dedicado ao lazer. A prevalência global de TMC no grupo de alunos foi de 40,9% e, dos sete interesses investigados (esportes, artístico, intelectual, manual, social, turístico e virtual), somente “esportes” mostrou-se um fator de proteção. Embora na análise univariada diferentes atividades de lazer tenham se mostrado significativamente associadas a TMC, após a análise multivariada, somente “cantar e tocar um instrumento” se manteve como fator de proteção. Outros fatores que se mostraram associados como fator de risco, após a análise multivariada, foram: cursar enfermagem, seguido do curso de medicina, não ser solteiro, ter dificuldade em fazer amigos, sentir-se rejeitado, não estar satisfeito com a escolha do curso, desejo de abandonar o curso, não estar satisfeito com a frequência do lazer, fazer uso de álcool, tabaco e substâncias psicoativas e baixo apoio social “interação”. Este estudo observou que há diferenças nas escolhas de vivências no lazer segundo os cursos e que a insatisfação quanto à frequência foi significativa. Tocar instrumento musical e/ou cantar foi a única modalidade das 53 investigadas no questionário de lazer que se manteve significativa após a regressão logística. Por fim, o estudo sugere que seja inserido na grade curricular dos estudantes da área da saúde o conhecimento sobre o lazer, com o intuito de educá-los para tais vivências e para que estes possam ser disseminadores de uma cultura de valorização desta vivência. O lazer pode ser um instrumento estratégico na busca por uma melhor qualidade de vida e melhor saúde física e mental, tanto para os profissionais quanto para seus pacientes