Resumo
O futebol, como todos os esportes, é uma prática intensamente controlada e regulamentada. Desde o século XIX, várias formas de intervenção sobre o corpo, o desempenho, a atuação e, até, a vida privada dos atletas, vêm sendo implementadas por instituições desportivas diversas. Este fenômeno pode ser denominado como disciplinarização, compreendido aqui como manifestação da sociedade disciplinar moderna, no sentido proposto por Michel Foucault, considerando, também, a contribuição de Norbert Elias. Este trabalho enfoca alguns aspectos do processo de disciplinarização no futebol brasileiro, através da Justiça Desportiva. Esta instituição incorpora, simultaneamente, regulamentações provenientes de associações e federações desportivas, de caráter privado, e regulamentações estatais, resultantes do processo de intervenção do Estado Brasileiro nas instituições e nas práticas esportivas. Serão analisados dois momentos da Justiça Desportiva brasileira através de dois estudos de caso referentes a dois jogadores, um, na década de 1970, outro nos anos recentes. Esta proposta analítica permitirá apontar, também, as mudanças na estrutura sócioeconômica do futebol, em termos mundiais e seus reflexos no Brasil. A análise destes dois casos permitirá, ainda, elaborar algumas proposições acerca da relação entre os jogadores, os clubes de futebol e a Justiça Desportiva brasileira, enfocando as expectativas em termos de internalização da disciplina e do autocontrole.