Trajetória esportiva de nadadores olímpicos brasileiros e os fatores que a afetam

A análise e a compreensão da trajetória esportiva de atletas de sucesso têm sido cada vez mais necessárias para a formulação de estratégias e ações que visam o maior desenvolvimento esportivo. Para um entendimento mais aprofundado a respeito da carreira esportiva de atletas é fundamental que se tenha o olhar da Gestão do Esporte, a fim de se compreender de que modo as organizações esportivas influenciam e podem colaborar com o desenvolvimento de atletas em diferentes estágios de suas trajetórias esportivas (Brouwers, Sotiriadou, & De Bosscher, 2015). Nesse sentido, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) desenvolveu um modelo holístico de desenvolvimento esportivo intitulado Caminho de Desenvolvimento de Atletas (CDA) composto por sete etapas que envolvem a trajetória de atletas, desde a iniciação até o pós-carreira (Comitê Olímpico do Brasil, 2022). O CDA apresenta detalhadamente os objetivos esperados em cada etapa, as idades ideais em que cada fase deveria ocorrer e as características de treinamento e competição em cada uma das sete etapas. Tendo como base teórica o CDA, esse estudo buscou identificar alguns elementos que afetam (positivamente e negativamente) a carreira de nadadores(as) brasileiros(as) ao longo das etapas propostas no modelo do COB. Objetivo(s): Traçar a trajetória esportiva de nadadores(as) olímpicos(as) brasileiros(as) e identificar as etapas e os principais fatores que afetaram o desenvolvimento esportivo desses(as) atletas. Método: Este é um estudo qualitativo, exploratório-descritivo. A amostra foi composta por nadadores(as) brasileiros(as) que foram semifinalistas e/ou finalistas olímpicos(as) em alguma das edições dos Jogos entre Sydney 2000 e Tóquio 2020. A população é formada por 44 nadadores(as) (34 homens e 10 mulheres), que foram convidados a participar do estudo. A amostra obtida foi constituída por 24 (18 homens e 6 mulheres), que aceitaram colaborar com a pesquisa, correspondendo a 54% da população. Foram utilizados dois instrumentos para a coleta dos dados: o Rapport Time Line (RTL) e a entrevista semiestruturada, cujo roteiro foi adaptado de Brouwers et al. (2015). O RTL, adaptado de Langley e Knight (1999), consiste na elaboração de uma linha do tempo de cada atleta, na qual eles deveriam inserir marcos importantes em suas trajetórias pessoais e esportivas. Na entrevista, os(as) nadadores(as) discorreram a respeito dos fatos indicados no RTL e foram questionados(as) sobre os principais fatores que afetaram, positivamente e negativamente, seus desenvolvimentos esportivos. Os participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e autorizaram a gravação do áudio das entrevistas. A análise dos dados se deu por meio da técnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 2011) e para tais procedimentos foi utilizado o software NVIVO. A categorização das informações obtidas seguiu a abordagem indutiva, agrupando-as conforme a similaridade dos fatores positivos e negativos mencionados na fala dos(as) nadadores(as). Principais Resultados: Com base na análise das trajetórias foi possível traçar um comparativo entre as idades em que os(as) nadadores(as) passaram pelas etapas do desenvolvimento esportivo com as idades sugeridas no modelo do COB. Os dados sugerem que na natação brasileira a especialização e o início da carreira no esporte de alto rendimento tende a acontecer de maneira mais precoce quando comparadas às idades indicadas pelo CDA. Quanto aos elementos que afetaram positivamente a trajetória esportiva desses(as) nadadores(as) e que contribuem com seu desenvolvimento esportivo, os fatores que se mostraram mais frequentes na fala dos(as) entrevistados(as) foram: uma iniciação esportiva diversificada, a mudança para um grande clube (sobretudo da região sudeste), a mudança para os Estados Unidos, o apoio familiar e o bom relacionamento com seus treinadores(as), comissão técnica e companheiros(as) de equipe. Por outro lado, quanto aos fatores que afetaram negativamente suas trajetórias esportivas, os mais comuns foram: a falta de apoio para conciliar os estudos e a rotina esportiva, a falta de suporte e acompanhamento psicológico, a realização de treinamentos inadequados, e as lesões.