Integra

INTRODUÇÃO:

O lazer contemporâneo se constitui em um espaço de realizações humanas as quais caminham nas mais diferentes direções. Um aspecto do lazer moderno diz respeito ao imenso número de novas práticas, equipamentos e técnicas que surgem todos os dias, baseados na lógica de produção capitalista. Entre estas, estão as realizadas em ambientes ditos naturais.Aqui, vamos identificá-las como "Práticas Corporais de Aventura", por entender que não são meramente ‘atividades’ nem ‘esportes’.

As atividades de lazer criadas no âmbito das sociedades capitalistas, acabam se subsumindo à lógica do mercado. Assim, se afastam de interesses voltados à cidadania e à emancipação humana, ampliando o mercado destas práticas. Mas é sob outro prisma que vislumbramos o lazer: entendemos que, assim como outros fenômenos sociais, o lazer é um "espaço de criação e (re)criação de identidades individuais e coletiva" (PACHECO, 1992: 251). Assim sendo, com estratégias pedagógicas coerentes e a proposição de uma reflexão contínua, acreditamos que as práticas de/no lazer possam caminhar na direção oposta à da reprodução capitalista. Neste sentido, desenvolvemos em 2004 a pesquisa Artes corporais e aventura na Natureza, parte do Projeto Integrado As práticas corporais na contemporaneidade: explorando limites e possibilidades, coordenado pela Profa. Dra. Ana Márcia Silva - DEF/UFSC. Esta pesquisa, justifica-se pela carência de outros significados para o lazer que não aqueles racionalizados pela lógica moderna.

METODOLOGIA:

Trilhas e Horizontes

Esta pesquisa investigou a relação "ser humano-natureza" nas práticas corporais de aventura (PA’s) e algumas possibilidades de sua re-significação. Algumas categorias nos auxiliaram nos processos de observação, coleta e análise dos dados:


- Categoria central: a "relação ser humano-Natureza".

- Categorias subordinadas:

- A Alteridade;

- A Técnica;

- A relação Espaço;

- A corporeidade, e

-O acesso.

A pesquisa aconteceu de fevereiro/2004 a abril/2005, com um grupo 14 meninas e 06 meninos de 7ª e 8ª séries da E. M. Augusto Althoff, da rede de ensino do município de Santo Amaro da Imperatriz, SC, pautada pelos princípios da pesquisa-ação, com destaque para a autonomia dos sujeitos.

Elegemos as seguintes PA’s associadas aos elementos da Natureza: Rafting-água, Rapel-terra, Tirolesa e Falsa baiana (atividades com cordas)-ar, e Corrida de orientação-fogo.

No trabalho de campo utilizamos algumas formas de expressão artística de maneiras diferentes:
A música foi utilizada no rafting;

O desenho foi utilizado em várias aulas;

O jornal escrito foi utilizado no rapel;

A fotografia serviu aos alunos e aos professores-pesquisadores - no rafting e no rapel;

Utilizamos o vídeo em três situações: 1) para registrar os alunos durante o rapel da cachoeira; 2) após o segundo rapel os alunos fizeram um jornal falado; e 3) para registrar um jogo com balões relacionado à tirolesa e à falsa baiana.

Outro recurso metodológico foi o ‘diário de campo’.

RESULTADOS:

Interpretando os movimentos

ACESSO: a maior parte não havia realizado estas práticas pelo alto custo dos serviços especializados ou pelo alto preço dos equipamentos. Alguns alunos passaram a olhar espaços no seu entorno que podem ser propícios às práticas de aventura.


 TÉCNICA:

a) procedimentos de segurança e equipamentos específicos. Jairo (13) nos disse: "é preciso fazer do jeito certo". A idéia de ‘certo’ aqui, se distancia do conceito de performance-rendimento, e se aproxima do fazer de forma segura.
b) a técnica como comportamento padronizado: gestos e equipamentos são padrões. Apresentamos uma mediação ressaltando a cooperação, a amizade, a alteridade e a autonomia.


 CORPOREIDADE :

Destacada na emoção: diversão e alegria, mas também medo e vergonha. Houve uma forte ligação dos alunos com o elemento água, mas também com o elemento terra quando preferiam fazer as atividades, descalços.


 ALTERIDADE

Foi percebida pelo cuidado consigo, pelo cuidado com a Natureza e com o outro e pela ampliação dos vínculos sociais entre os alunos. As observações ressaltam novas amizades como aspecto enriquecedor das relações construídas na pesquisa (cf. VILLAVERDE, 2003).

 RELAÇÃO SER HUMANO-NATUREZA

Ficou clara uma percepção de Natureza como algo externo ao ser humano. Outra relação que os alunos estabelecem é que a Natureza é um meio, seja para as PA, seja para outras ações humanas: uma visão utilitarista de Natureza, onde esta não passa de um ‘provedor’ de espaços-cenários.

CONCLUSÕES:

A pesquisa sustentou a tese inicial de que as PA’s são compreendidas pela lógica do mercado e limitadas pelo viés racionalista pelo qual são estruturadas.

Os dados trouxeram indicações positivas quanto à possibilidade de re-significação das PA’s ao seu potencial emancipador: as PA’s como um caminho para o reconhecimento do ser humano como Natureza e para uma conduta ética frente à Natureza e aos outros seres humanos.

A metodologia utilizada mostrou-se eficaz para a intervenção na realidade, pois contribuiu para projetar transformações no modo de agir e de pensar do grupo. O dado mais evidente foi à mudança nas relações sociais dos alunos, onde preconceitos e diferenças no grupo foram sendo desconstruídos; o convívio pelas PA’s contribuiu para a formação de um grupo de amigos, que por suas próprias falas gostariam que se perpetuasse.

As PA’s são certamente passíveis de re-significação: deve haver liberdade de agir e de pensar frente ao exercício da mesma, numa restituição ao direito daquilo que chamamos de consciência crítica. Exemplos desta re-significação se deram ao longo de toda a pesquisa, especialmente com a criação de brincadeiras no interior das PA’s, possíveis pela auto-organização do grupo.

Entendemos que são necessárias outras pesquisas e que este tema pode e deve ser aprofundado, pois apresenta importante contribuição social; é preciso considerar as lacunas deixas por esta pesquisa, visto que os objetivos almejados eram de ordem subjetiva e que o processo de internalização e reflexão dos sujeitos devem ser levados em consideração.