Uma Conturbada Trajetória Até a Linha de Chegada: o Iron Man Brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1932
Por Lucas Farias da Silva (Autor), Bruna Letícia de Borba (Autor), Carolina Fernandes da Silva (Autor).
Parte de Anais do Fórum de Estudos Olímpicos 2021 e III Simpósio Latino-americano Pierre de Coubertin . páginas 115
Resumo
A edição dos Jogos Olímpicos (JO) de 1932 foi marcada como sendo a terceira participação de uma delegação brasileira, tendo se caracterizado por grandes desafios enfrentados, sobretudo, pelos atletas (PETRIK, 2008). Foi uma viagem recheada de polêmicas, como as encenações para driblar a cobrança de pedágios e a duração de cerca de um mês, correndo o risco de não conseguir enviar a delegação aos Estados Unidos. Após chegarem em Los Angeles, entraves econômicos afetaram o desembarque e permanência de boa parte dos atletas; dentre eles, Adalberto Cardoso, um corredor de Santa Catarina que treinava na Liga de Sports da Marinha. Para participar da corrida de 10.000 metros, faltando apenas um dia para a data da sua competição, ele enfrentou uma estrada de centenas de quilômetros, de carona, sem ter conseguido treinar, descansar e se alimentar devidamente, chegou ao estádio onde seria disputada a prova, minutos antes da largada, e mesmo tendo caído ao longo do trajeto, persistiu e concluiu o trajeto, sendo o último dos atletas a cruzar a linha de chegada, demonstrando coragem e superação. Ao saberem de seus percalços, foi ovacionado pela imprensa e a plateia presente, as quais o denominaram “homem de ferro” (PEREIRA, 2016). Esta sua atitude foi apresentada como modelo de comportamento na perspectiva do Olimpismo por jornais dos Estados Unidos e do Brasil (SILVA et al; 2021). O Olimpismo está presente no cerne dos JO desde a sua restauração por Pierre de Coubertin, em 1896, guiando-se por valores éticos e balizadores da atividade humana, que favoreçam a busca pela tolerância, solidariedade, paz e o reconhecimento de igualdade entre os povos, não somente no sentido do rendimento esportivo, mas também nas ações de solidariedade, posições políticas e de integração com sua comunidade (FRÍAS, 2018; PARRY, 2006). Diante deste cenário, o presente estudo tem como objetivo compreender como a participação de um atleta brasileiro nos Jogos Olímpicos de 1932 foi representada em jornais de Santa Catarina e Rio de Janeiro. Para tanto, foi realizada uma pesquisa histórico-documental (DAY; VAMPLEW, 2015). Para o corpus documental, foram coletadas reportagens sobre Adalberto Cardoso em jornais dos estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro. A participação de Adalberto nos JO foi abordada com grande entusiasmo pela imprensa brasileira, bem como utilizada como exemplo relacionada a outras participações brasileiras nesta edição dos JO, consideradas como de má conduta esportiva.