Resumo

Observamos que as ginastas começaram a competir na Ginástica Artística submetidas à um sistema ideológico de gênero que ditava os papeis e os valores da mulher e, consequentemente, o que ela poderia ou não fazer na sociedade e no esporte com seus corpos. A partir desse contexto, a finalidade desse estudo foi percorrera história da Ginástica Artística no corpo das mulheres por meio da análise dos aparelhos no período de 1952 até 1964, o qual marcou a consolidação da categoria feminina. O caminho metodológico escolhido foi da abordagem histórica, na qual utilizamos a pesquisa documental e a bibliográfica para a obtenção dos dados. Na pesquisa documental foram consultados as diretrizes e os relatórios de cada edição dos Jogos Olímpicos e, também, as revistas pioneiras no campo da ginástica. Com a inserção da mulher nas práticas esportivas e competições, como os Jogos Olímpicos, o esporte se tornou um cenário de conflitos e lutas sobre o que uma mulher poderia ser e fazer nesse âmbito. E ao percorrermos a história da mulher no esporte, mais precisamente até a década de 1950, observamos que não era recomendado tanto correr como praticar atividades esportivas e competir. Compreendemos que para a FIG os períodos de 1950 e 1960 foram considerados como a era da Ginástica Artística estritamente esportiva e que marcou a entrada da modalidade na era contemporânea. O primeiro aparelho abordado no texto foi a trave de equilíbrios. Nele percebemos que embora houvesse a tendência de desenvolvimento desse aparelho para elementos pré-acrobáticos (a qual era exibida nos exercícios livres), verificamos que na competição obrigatória o foco se mantinha em elementos corporais, como: deslocamentos, ondas, giros, rolamentos, equilíbrios e saltos, entretanto, o propósito do aparelho era demonstrar equilíbrio em uma estrutura estreita com todo o charme e elegância feminina. O segundo aparelho desenvolvido foi a barra assimétrica, observamos que as barras assimétricas tiveram a finalidade de fazer uma oposição às barras paralelas masculinas e às suas características que requisitavam valências físicas do universo masculino, pois o raciocínio era de que as mulheres não tinham a força necessária para atuar nas barras simétricas, além de que a mudança permitiria uma maior variedade na expressão artística. O solo foi o terceiro aparelhos estudado, os exercícios de solo primavam pela beleza, a feminilidade e harmonia, aspectos que emergiam por meio da combinação do uso do espaço, coreografias bem elaboradas e o acompanhamento musical. O último aparelho foi o cavalo de salto, que devido ao discurso médico da época, baseado nos princípios vitorianos, que postulava que a mulher não deveria se comprometer fisicamente, por isso, houve uma diferenciação na posição do cavalo, que buscava garantir que as mulheres realizassem menos força nos membros superiores quando comparada aos homens nesse aparelho. Concluímos que vários aspectos foram alterados no decorrer dessa história da GA feminino até a edição olímpica de Tóquio 1964. E, todas as mudanças que foram observadas, não só no salto, mas em todos os aparelhos, não ocorreram isoladas dentro dos ginásios. As mulheres buscaram o sair da subordinação, da invisibilidade e da impotência, em busca de igualdade e do controle sobre sua vida e seus corpos, ações que ganham força na década de 1960 com a segunda onda do feminismo.

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