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O dia 12 de Novembro passou silencioso, sem alarde, sem celebração. Era o Dia da Universidade Africana — uma data que deveria convocar reflexão, compromisso e esperança. Mas nas universidades moçambicanas, como em tantas outras do continente, o silêncio foi sintoma: da negligência institucional, da precarização docente, da erosão do sentido público da educação superior. E, no entanto, é justamente neste cenário que se impõe a urgência de pensar a universidade como espaço de emancipação, como motor de desenvolvimento, como território de resistência contra a desmobilização promovida pelas elites financeiras globais.

Durante décadas, o FMI e o Banco Mundial têm ditado políticas que subordinam o conhecimento à lógica do mercado. A universidade, nesse modelo, deixa de ser lugar de pensamento crítico e torna-se uma engrenagem tecnocrática, voltada para a produção de “recursos humanos” e não de cidadãos conscientes. A pesquisa é medida por métricas externas, o ensino é automatizado por algoritmos, e a extensão perde sua dimensão comunitária. Em Moçambique, isso se traduz na precarização do trabalho docente, na desvalorização da leitura como prática de liberdade, na exclusão de estudantes com deficiência, na privatização silenciosa das instituições públicas, da centralização dos fundos para a pesquisa e da descredibilização que conduz a migração intelectual, a banalização do trabalho universitário que desmotivam.

Mas há uma contracorrente. Há docentes que resistem, estudantes que sonham, comunidades que exigem. Há experiências de ensino em línguas nacionais, projectos de pesquisa enraizados nas realidades locais, práticas andragógicas e didáticas que desafiam o colonialismo epistêmico. Há uma universidade que pulsa, mesmo quando tentam silenciá-la. E é essa universidade que precisa ser fortalecida — não como réplica do modelo euro-americano, mas como espaço de criação africana, de pensamento situado, de cuidado colectivo.

A emancipação do conhecimento não virá por decreto, nem por financiamento externo. Virá da coragem de financiar, investir, reinventar a universidade como bem comum, como lugar de encontro entre saberes, como laboratório de futuros possíveis. Virá da capacidade de transformar a crise em oportunidade, o abandono em reinvenção, a exclusão em acolhimento.

Neste pós-12 de Novembro, que a universidade africana — e a moçambicana em particular — se levante. Que se torne motor de desenvolvimento, não no sentido estreito do crescimento económico, mas no sentido amplo da dignidade, da justiça, da imaginação política. Que se afirme como espaço de esperança, contra a lógica da desmobilização. Que se torne, enfim, aquilo que sempre foi chamada a ser: casa do pensamento, da liberdade, da transformação.

Porque o futuro de África não será importado. Será pensado, vivido e construído — nas suas universidades.

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