Resumo
Desde sua concepção, os fenômenos dos limiares anaeróbios ganharam grande atenção das ciências do esporte e da saúde como uma importante ferramenta na avaliação e prescrição de treinamento aeróbio. Diversos protocolos foram desenvolvidos para se determinar os limiares 1 e 2. Contudo, tais protocolos são compostos por esforços de alta intensidade e/ou longa duração. Em 1986, um protocolo composto por duplos esforços não-exaustivos (DENE) que possivelmente determinaria uma das zonas de transição metabólica (limiar 1 ou 2) foi proposto, porém pouco estudado. Assim, os objetivos da presente pesquisa foram de: 1) Determinar as intensidades do DENE (iDENE) por meio de análises de lactato sanguíneo, consumo de oxigênio (VO2) e frequência cardíaca (FC) (DENELAC,VO2,FC); 2) Comparar os valores de velocidade preditos pelo DENELAC,VO2,FC com as encontradas pela máxima fase estável de lactato (MFEL), limiar ventilatório 1 e 2 (LV1 e LV2); 3) Correlacionar as intensidades preditas pelos protocolos estudados; 4) Verificar a reprodutibilidade do DENELAC,VO2,FC por meio de procedimento de teste e reteste. Para tanto, 19 voluntários do sexo masculino, saudáveis e moderadamente ativos realizaram quatro testes para a determinação dos limiares dentro de duas a três semanas. Após as medidas antropométricas, os voluntários assinaram o termo de compromisso livre e esclarecido e preencheram o international physical activity questionnaire (IPAQ) para sua classificação mínima como "moderadamente ativos". Em seguida, os voluntários realizaram o protocolo em rampa individualizado para a determinação do LV1, LV2 e consumo máximo de oxigênio (VO2max). Os limiares foram determinados por análise visual dos equivalentes ventilatórios 1 e 2 (VE/VO2 e VE/VCO2) e o VO2max foi obtido pelo maior valor de consumo de oxigênio durante o teste. A MFEL foi determinada por meio de testes de cargas retangulares com duração de 30min em diferentes dias, sendo considerada como a maior intensidade na qual se observou estabilização do lactato sanguíneo nos últimos 20min de teste. O teste de DENE foi composto por quatro aplicações de duplos esforços, cada um realizado sob diferentes intensidades. A intensidade do DENE (iDENE) foi determinada pelo intercepto-y de uma regressão linear entre a diferença das variáveis fisiológicas (lactato, VO2 e FC) do primeiro e do segundo esforço com as velocidades de cada duplo esforço. Os valores em média ± DP das intensidades de LV1, LV2, MFEL foram respectivamente: 10,22 ± 0,97, 12,59 ± 0,94 e 12,13 ± 1,21. Os valores das iDENE determinados pelo lactato, VO2 e FC foram de: 10,54 ± 1,45, 10,71 ± 1,30, 9,79 ± 1,96 respectivamente. O ANOVA apontou diferenças estatísticas entre o iDENELAC,VO2,FC e LV1 comparados à MFEL e LV2 (p < 0,05). Não foi identificado diferenças significativas entre a iDENELAC,VO2,FC e o LV1 (p > 0,05). O DENE predito pelas três variáveis fisiológicas (lactato VO2 e FC) foi estatisticamente correlacionado com o LV1 e a MFEL. A iDENELAC,VO2,FC apresentaram bons índices de correlação intraclasse (0,87, 0,49 e 0,66 respectivamente) e de coeficiente de variação (5,1, 9,0 e 11,7 respectivamente). Além disso, os valores das diferenças das velocidades do teste e reteste do DENE estiveram dentro do limite de concordância nos plots de Bland & Altman. Estes resultados sugerem que o protocolo de DENE realizado por meio das três variáveis fisiológicas abordadas (lactato, VO2 e FC), é um procedimento de boa reprodutibilidade e capaz de estimar o primeiro limiar ventilatório.