Velhice e Sociabilidade: as Práticas de Frequentadores do Sesc São Paulo
Por Leslie L. Sandes (Autor), Yuri B. Tambucci (Autor).
Resumo
Ao longo dos anos de 2015 e 2017 foram realizadas duas etapas da pesquisa “Cultura e Lazer: práticas físico-esportivas dos frequentadores do Sesc em São Paulo”, a partir de uma parceria firmada entre o Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana da USP (LabNAU-USP), o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) e o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP. Seu objetivo geral era o de compreender as motivações e as práticas dos frequentadores do Sesc nas unidades do estado de São Paulo. A etapa qualitativa dessa pesquisa se deu a partir de uma estratégia metodológica que vem sendo desenvolvida e trabalhada pelo LabNAU nos últimos anos: a expedição etnográfica. Neste caso, uma equipe de 10 pesquisadores antropólogos visitou 14 unidades do Sesc, acompanhando “de perto e de dentro” (MAGNANI, 2002) as atividades cotidianas durante uma semana em cada uma delas. Esse tipo de abordagem possibilitou que se conseguisse um material muito extenso e extremamente rico, que permite seguir pistas dadas pelos episódios vividos em campo e compreender os frequentadores da instituição a partir de seus próprios termos. Dentre os marcadores sociais da diferença, a geração se mostrou uma das classificações mais utilizadas para que os frequentadores do Sesc falassem sobre si e sobre os outros e para que a instituição se relacionasse com o seu público. A instituição possui programas específicos relacionados a determinadas faixas etárias, como o Programa Curumim (infância), o Juventudes e o Trabalho Social com Idosos. O público alvo desse último programa forma um grupo de frequentadores extremamente diverso, não apenas pelo intervalo etário que compreende (a partir dos 65 anos), mas principalmente pela diversidade de corpos, desejos, capacidades e histórias de vida. Essa diversidade se manifesta no próprio nome utilizado para se referir a essa idade: “idoso”, “velho”, “terceira idade”, “melhor idade”, entre outros, cada um mobilizado e negociado em cada situação e para cada demanda. Durante o trabalho de campo, foi possível perceber que esses homens e mulheres ocupam o Sesc e suas atividades de forma ativa e mobilizam outros aspectos de sua identidade que – em muitos casos – não têm espaço no ambiente familiar. A sexualidade volta a ocupar um lugar central na vida social, com os namoros e paqueras que têm espaço nos bailes e nas viagens de turismo; masculinidades e feminilidades são debatidas e mobilizadas a partir de atividades entendidas no campo do lazer; amizades e inimizades configuram redes de relação e constituem a vida além do ambiente doméstico. Neste trabalho, serão apresentados casos de campo que ajudam a compreender como as questões relacionadas à velhice são mobilizadas e como as atividades e as formas de uso imprevistas das unidades do Sesc ajudam a acessar de forma sensível a diversidade dessa faixa populacional.