Resumo

Este relato baseia-se nas viagens desenvolvidas como guia de ecoturismo com grupos de pessoas com deficiência. Ao longo do tempo, pude perceber que o conceito de lazer e de experimentação deveria ser um direito de todos (CF - 1988, Art. 6°), mas grande parte dos roteiros de aventura não estavam disponíveis para PCD, e isso ocorria para as mais diversas deficiências, como física e intelectual. As restrições aparecem, de maneira mais óbvia, nas dificuldades dos participantes com relação ao preparo físico, à capacidade de ser autossuficiente, à locomoção, ao entendimento dos riscos e também à insegurança em relação ao novo. Mas também de formas menos perceptíveis, como a insegurança dos pais e/ou cuidadores, a falta de recursos financeiros e o preconceito, tanto dos operadores turísticos como dos outros turistas. Segundo Duarte, em artigo publicado na Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo (2015), o trade turístico trabalha “... mais do ponto de vista social do que de mercado”, perdendo uma parcela considerável da população (23,91% segundo IBGE 2010). O artigo também afirma que não existe “... nenhuma agência de viagens que trabalhe com o referido grupo de pessoas e, corroborando com os demais, afirma que as PCD não são vistas como uma parcela que tem capacidade de consumo”, deixando clara a falta de conhecimento sobre o potencial do setor. Por outro lado, durante as viagens e passeios, pude perceber que mesmo com as dificuldades inerentes aos portadores de deficiência, os roteiros não necessitam de grandes modificações para serem desenvolvidos. O uso de veículos adaptados aos cadeirantes, a disponibilização de um número maior de guias e monitores e o planejamento mais minucioso podem ser suficientes no que tange a parte de operacionalização. Não obstante, deve-se levar em conta a realidade de cada cliente, em especial com relação às suas limitações físicas, psicológicas, familiares e de alimentação, encontrando alternativas e criando adaptações necessárias. No que se refere às adaptações físicas e de alimentação, temos diversas possibilidades que podem ser encontradas no mercado, e que no geral já são conhecidas do próprio cliente. A dificuldade maior fica no tocante aos temores psicológicos e a aceitação familiar, pois na maioria das vezes, será a primeira experiência do cliente em um ambiente natural e em uma condição de “independência” no que se refere à separação familiar, mesmo que por pouco tempo. Entender a preocupação, tanto dos parentes como do próprio deficiente, é responsabilidade do trade turístico, em especial da agência e do guia que devem criar um vínculo de confiança. Para isso, é essencial realizar encontros, anteriores à viagem, que mostrem de forma didática e clara todos os detalhes do roteiro, incluindo as condições do local, adaptações possíveis, tempos de deslocamento, riscos envolvidos e disponibilidade de acesso ao socorro, bem como acesso a meios de comunicação. Apesar das dificuldades, participar do processo de descoberta pessoal do cliente, no tocante à percepção de suas habilidades e capacidades é algo transformador para todos os envolvidos. Em conversas com familiares, pude notar o quanto todos cresceram com a experiência

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