Você Acaba Ficando em Uma Situação de Impotência: os Impactos das Regras Modificadas em Competições de Handebol de Crianças Sobre o Ofício do Treinador
Por Lucas Leonardo (Autor), Luis Felipe Nogueira Silva (Autor), Luís Bruno de Godoy (Autor), Gabriel Orenga Sandoval (Autor), Alcides José Scaglia (Autor).
Em III Congresso Internacional de Pedagogia de Esporte - CONIPE
Resumo
Introdução: A modificação regulamentar em competições de crianças é uma realidade bastante difundida no handebol. A Federação Paulista de Handebol (FPHb) tem no sistema defensivo individual por aproximação a principal regra que modifica as competições sub-12. Embora treinadores atribuam valor pedagógico a esta modificação, eles tendem a transgredir/subverter esta mesma regra. Argumentos éticos e morais emergem destas condutas e abrem a seguinte questão: quais são os motivos que justificam tais atitudes? Tivemos como base teórico-filosófica a primeira premissa ética de Paul Ricoeur: “visar a vida boa”, logo, alicerçada nas percepções dos treinadores sobre como a regra modificada traz impactos sobre si mesmos. Objetivos: Investigar os sentidos atribuídos pelos treinadores às próprias condutas de tensionamento às regras. Metodologia: Foi conduzida uma pesquisa qualitativa realizada por meio de uma entrevista não-estruturada complementada por entrevistas recorrentes com sete treinadores de handebol sub-12 da FPHb intencionalmente escolhidos para o estudo. Resultados: Os treinadores revelam uma relação heterônoma para com a regra e justificam suas condutas em duas dimensões: 1) no plano ético, a partir do sentimento de impotência que os fazem se sentir incapazes de exercerem aquilo que valorizam para si como o papel de treinador; 2) no plano moral, concretizam este sentimento pela limitação que a regra lhes impõe em atuar no plano estratégico-tático do jogo, que consideram ser seu dever como treinadores. Conclusões: Treinadores entendem que as regras modificadas, embora tenham valor pedagógico à criança, são fonte de desrespeito ao seu ofício, reduzindo aquilo que querem e devem fazer a um poder-fazer apequenado frente às imposições da regra modificada, de modo que o tensionamento à regra não seja justificado pela negação ao seu valor pedagógico, mas como uma conduta de resistência àquilo que aflige o sentido que os treinadores atribuem à sua própria realização no exercício de seu ofício.