Resumo

Introdução: A modificação regulamentar em competições de crianças é uma realidade bastante difundida no handebol. A Federação Paulista de Handebol (FPHb) tem no sistema defensivo individual por aproximação a principal regra que modifica as competições sub-12. Embora treinadores atribuam valor pedagógico a esta modificação, eles tendem a transgredir/subverter esta mesma regra. Argumentos éticos e morais emergem destas condutas e abrem a seguinte questão: quais são os motivos que justificam tais atitudes? Tivemos como base teórico-filosófica a primeira premissa ética de Paul Ricoeur: “visar a vida boa”, logo, alicerçada nas percepções dos treinadores sobre como a regra modificada traz impactos sobre si mesmos. Objetivos: Investigar os sentidos atribuídos pelos treinadores às próprias condutas de tensionamento às regras. Metodologia: Foi conduzida uma pesquisa qualitativa realizada por meio de uma entrevista não-estruturada complementada por entrevistas recorrentes com sete treinadores de handebol sub-12 da FPHb intencionalmente escolhidos para o estudo. Resultados: Os treinadores revelam uma relação heterônoma para com a regra e justificam suas condutas em duas dimensões: 1) no plano ético, a partir do sentimento de impotência que os fazem se sentir incapazes de exercerem aquilo que valorizam para si como o papel de treinador; 2) no plano moral, concretizam este sentimento pela limitação que a regra lhes impõe em atuar no plano estratégico-tático do jogo, que consideram ser seu dever como treinadores. Conclusões: Treinadores entendem que as regras modificadas, embora tenham valor pedagógico à criança, são fonte de desrespeito ao seu ofício, reduzindo aquilo que querem e devem fazer a um poder-fazer apequenado frente às imposições da regra modificada, de modo que o tensionamento à regra não seja justificado pela negação ao seu valor pedagógico, mas como uma conduta de resistência àquilo que aflige o sentido que os treinadores atribuem à sua própria realização no exercício de seu ofício.

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