Até que ponto a tecnologia dos aparelhos de ginástica substitui a orientação de um profissional?   Francine Lima (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI229628-15230,00-MAQUINAS+X+PROFESSORES.html)   Esta semana, um fórum sobre temas da educação física aqueceu a discussão sobre a validade das academias de ginástica que não fazem questão de ter professores orientando os alunos na sala de musculação e nos aparelhos de exercício cardiovascular. Essas academias, dizem, capricham na quantidade, na qualidade e na beleza dos aparelhos, mas economizam em profissionais, e por isso conseguem cobrar mensalidades mais baratas, de olho na emergente classe C. O cliente que desejar receber mais atenção deverá contratar um professor para si mesmo, por um preço adicional, bastando escolher entre os nomes previamente selecionados e apresentados pelo estabelecimento num quadro de avisos.

Quer dizer: fazer exercícios com um professor do lado parece que agora virou mesmo um luxo.

Revoltados com a aparente desvalorização da categoria, profissionais de educação física que participam do fórum fizeram duras críticas a esse modelo de negócio, defendendo a ideia de que privar o cliente da academia de orientação correta, dada por um ser humano que estudou, é o pior serviço que se pode oferecer. Afinal, dizem eles, o aluno sozinho com a máquina não será capaz de perceber se está executando os movimentos incorretamente, nem saberá dosar a intensidade dos exercícios conforme seu condicionamento melhora – ou piora. Se exercício fosse uma coisa que qualquer um soubesse fazer direito, então não precisaria existir faculdade de educação física, certo? O professor que iniciou o debate até citou estudos que mostram a diferença de resultados entre os treinos com e sem o acompanhamento de um profissional.

Mas aí apareceu gente do outro lado do balcão lembrando que, mesmo tendo profissionais formados, que estudaram quatro anos numa faculdade para orientar quem não estudou, as academias convencionais (que têm professores disponíveis, ao preço normal da mensalidade) não costumam fazer questão de orientar seus alunos adequadamente. “Quem me dera ter encontrado profissionais assim nas academias em que já treinei, das menores às maiores”, diz Leandro, um curioso que, como eu, participa do fórum sem ser da área. “Quando vi os resultados dos estudos em relação ao treinamento com e sem acompanhamento, fiquei imaginando se os resultados seriam os mesmos na seguinte configuração: ‘acompanhamento por profissionais que concluíram o superior mas nunca se deram ao trabalho sequer de ler estudos científicos como aquele em que se comprova que 3 séries não é estatisticamente melhor do que 1 série’ versus ‘sem acompanhamento, com o aluno se preocupando o suficiente para aprender a ponto de ler estudos científicos’.”

Esse moço tocou num ponto bastante relevante da questão: que diferença faz ter professores ao seu dispor se eles não sabem exatamente o que fazer com você e vêm com um treino pronto, criado por outra pessoa, sem saber se serve para você? Eu já havia abordado o preparo dos professores num artigo anterior. Vivo ouvindo críticas ao desinteresse, ao despreparo e até à burrice dos profissionais de educação física. Várias vezes, elas vêm de clientes que se sentem ignorados na sala de musculação enquanto os moços de uniforme batem papo e paqueram as alunas gostosas. Mas, mais frequentemente, as críticas têm vindo dos colegas de profissão desses rapazes. Os profissionais da área que sabem inglês e cruzam informações atualizadas com seus pares se irritam profundamente com aqueles que se contentam em exibir braços fortes em camisetas justas e ler revistas de banca que até eu acho repetitivas.

Na semana passada, aconteceu em Santos a Fitness Brasil, maior evento da área, que reúne supostas novidades mercadológicas e alguma discussão científica, com a finalidade de atualizar os profissionais das academias. Um dos palestrantes me contou que, no seu curso, um quarto dos alunos (colegas de profissão) parecia realmente interessado em aprender algo novo. A maioria queria mesmo uma receita de bolo fácil de copiar.

Mas cada um sabe o que quer, né? Outro dia, batendo papo com um cara que há alguns anos revezava comigo os aparelhos da musculação, numa academia que ambos não frequentamos mais, ele me contou que tinha se mudado para uma academia bem mais cara, mas que tinha aparelhos mais modernos e gente mais bonita. Se isso era o mais importante pra ele, então pra quê professor bom? Já eu me mudei para uma academia que é mais cara, mas não tem aparelho nenhum. Tem professores dando aulas, para turmas pequenas, de olho nos alunos, pra não deixar ninguém errar, se machucar nem desperdiçar tempo com exercício mal feito. Entre as máquinas e pessoas com cérebro atuante, eu ainda prefiro a segunda opção.

Comentários

Por Eduardo Ramos do Nascimento
em 2 de Maio de 2011 às 18:55.

Em uma Academia onde Trabalhei até pouco tempo como Instrutor, no Transito Livre (Musculação). Havia excelentes Profissionais no quisito de conhecimento técnico, porém no atendimento ao público notáva-se um carência de atenção e preocupação, ou seja, um completo abandono. Ao ponto de ser questionado por uma aluna, se eu estava recebendo mais que os outros, por ser sempre atencioso e não cruzar os braços e debruçar nos aparelhos. Halgo que infelismente depende do carater, da educação e sobre tudo do Profissionalismo. Que fere profundamente o estatus da Profissão, rotulando negativamente, já que por si só o Educador Físico sofre pela desvalorização, de uma profissão recente e carente de melhorias nas condições de Trabalho.


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