As demandas da sociedade do conhecimento
Autor(es): Arnaldo Niskier - Correio Braziliense - 04/07/2009
Formado em matemática e pedagogia, ex-secretário de Educação e Cultura do Rio de Janeiro, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Não foi só Roger Batiste que provou ser o Brasil um país de contrastes. Os exemplos são diários e, às vezes, surpreendentes. Com a diferença de menos de uma semana, tomamos conhecimento de que 20% dos professores de educação básica em exercício não poderiam estar dando aulas, pois são leigos, ou seja, não têm a formação adequada para lecionar.
Ao mesmo tempo, com um espanto positivo, tomamos conhecimento de que a modalidade de educação a distância enseja a quase 1 milhão de estudantes a possibilidade de acesso à sociedade do conhecimento. A pergunta é óbvia: por que não estão sendo utilizados os mecanismos da EAD para a graduação dessa gente, sobretudo se levarmos em conta que a conhecida e bem-sucedida Universidade Aberta da Inglaterra (Open University) começou a sua trajetória, na década de 1970, treinando professores? Foi essa a prioridade, a que ela se devotou, nos primeiros anos de vida.
Entre nós, quase 600 mil professores não têm curso superior, o que exige uma providência imediata, se queremos salvar toda uma geração dessa turbulência perigosa. Parece que o Congresso Nacional tratará da matéria, o que é um bom sinal.
Felizmente, no sistema existente, temos dois segmentos que não nos envergonham: a pós-graduação, reconhecidamente de nível internacional, e a educação a distância, que cresce de forma segura e competente. Ao entrevistar o especialista Frederic Litto, criador da Escola do Futuro da USP, no programa Educação em Debate, promovido pelo CIEE na TV Universitária do Rio de Janeiro (Canal 11 — NET), dele ouvimos palavras de esperança quanto ao emprego das novas tecnologias de comunicação: “Já existe um convencimento de que é preciso utilizar o cérebro de forma bem mais efetiva, em nosso país. Assim será possível customizar a educação de cada pessoa”.
Ocorre um fenômeno que passou agora a ser mais nítido: temos 5 milhões de jovens universitários e a única mobilidade provável, ou seja, o aumento do efetivo, reside na assistência às classes C e D, com a gratuidade oficial ou mensalidades mais camaradas. A isso se junta o imenso potencial da EAD, onde cada um estuda de acordo com o próprio ritmo de aprendizagem. E tem mais: a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) está elaborando o projeto revolucionário de certificação profissional da boa qualidade dessa modalidade, o que aumentará ainda mais a procura de cursos a distância, neste país extenso e “bonito por natureza”, como diz a música.
Há outro aspecto a considerar, de fundamental relevo: pesquisas sérias comprovam que alunos de nove áreas do conhecimento, em EAD, apresentaram resultados mais favoráveis do que os que frequentaram cursos presenciais, podendo ser citados, especialmente, os exemplos de administração e pedagogia. Para maior conforto desse raciocínio, hoje é sabido que algumas das melhores universidades do mundo, como as de Harvard, Berkeley, Oxford e Cambridge estão oferecendo cursos a distância, sem qualquer preocupação de discriminar os seus alunos.
Aliás, disse-nos o professor Litto que, em recente viagem ao Reino Unido, pôde comprovar que as três maiores universidades britânicas, hoje, são as de Oxford, Cambridge e a Open University (credenciada por ato da rainha da Inglaterra). Por aí se vê como mesmo instituições tradicionais (Oxford tem 800 anos) estão aderindo à modalidade de EAD e, particularmente, penso que a Universidade Aberta do Brasil deveria dar prioridade à formação e aperfeiçoamento de professores, para operar com eficiência e dentro de uma correta estratégia de governo, que inclui a criação do e-TEC. Só para incomodar: hoje, a Universidade Aberta do Paquistão tem quase 2 milhões de alunos. Quando chegaremos lá?
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