Vale a pena ler!
17. "Professores brasileiros precisam aprender a ensinar" | |
Para economista, é preciso supervisionar o que ocorre na sala de aula no Brasil; problema também afeta escola particular Maria Cristina Frias e Roberta Bencini escrevem para a "Folha de SP": "Por que alunos cubanos vão tão melhor na escola do que brasileiros e chilenos, apesar da baixa renda per capita em Cuba?" A pergunta norteou estudo do economista Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, que filmou e mensurou diferenças entre atividades escolares nos três países. No Brasil, o professor encontrou despreparo para ensinar e atividades feitas pelos alunos sem controle. "Quase não há supervisão do que ocorre em classe no Brasil." Para ele, o problema também atinge a rede particular. "Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá." O link para a notícia completa: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=65279 |
Comentários
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Leosmar Malachias de Oliveira
em 11 de Agosto de 2009 às 01:30.
Olá Claudia,
Antes de mais nada gostaria de observar que estudos comparativos sempre possuem uma grande limitação de análises, pois partem muitas das vezes de contextos muito diferentes.
Façamos uma breve observação das situações que envolvem o cotidiano escolar nas diversas partes deste país. Se aplicarmos um modelo único de avaliação encontraremos situações bem contrastantes. O SAEB é um exemplo disto. Num país como o nosso de cultura variada e situações de desenvolvimento díspares, já temos a oportunidade de observar resultados variados, façamos então o cálculo destas comparações considerando a diferença entre países.
Posso citar o exemplo da diferença de qualidade, "digo qualidade, pois parece ser esta a questão", entre o Ensino Público Estadual e o Municipal. Ambos são Públicos, porém sempre existe uma grande diferença entre um e outro. As dimensões do Ensino Público Estadual são infinitamente maiores que a do Ensino Municipal, portanto tudo que é de má qualidade no Estado se transforma em um grande problema, enquanto no município consegue se solucionar questões com maior eficiência. Para ambos os alunos possuem o mesmo perfil, porém vão frequentar escolas que possuem qualidade de ensino diferentes.
Considerar as diferenças é no mínimo aconselhável. Se a justificativa é o que se aprende, respondo com as perguntas - "O que se espera que ensinemos?". Porque estamos ensinando? Para que estamos ensinando?
Sistemas de avaliação são sempre questionáveis. Podemos considerar o modelo de acesso ao Ensino Universitário Público Brasileiro justo e eficiente?
Certamente temos de assumir que nossas Escolas não são boas, porém, toda vez que um Economista tenta olhar a complexidade da questão educacional pelos olhos da estatística, em geral, acaba cometendo a leviandade de jogar a culpa do fracasso nas costas dos professores. O olhar "empresarial" na educação encara professores como mão de obra barata e desqualificada. Comparar Brasil, Cuba e EUA é no mínimo ingenuidade. O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma população de quase 180 milhões, com uma das piores distribuições de renda do planeta, não conseguimos erradicar o anafalbetismo, apenas colocamos em torno de 90% das crainças em nossas escolas, contudo dizer que estão aprendendo é outra afirmação que não podemos fazer ainda.
Quantos alunos tem uma sala de 1ª série nos EUA e em Cuba?
Quanto se investe por aluno nos EUA e em CUBA?
Isto me lembra um vídeo Educacional que faz sucesso entre Educadores, da Profª Constance Kamii (aluna de Piaget), que entre outras coisas mostra exemplos de aulas para o ensino de conceitos matemáticos. O detalhe é que a aula que serve de exemplo trata-se de Escolas norte-americanas que possuem em média 15 alunos por sala.
A forma e metodologia adotadas são realmente inquestionáveis, porém a realidade e contextos de ensino não podem ser comparadas sem que sejam analisadas individualmente.
Minha Mãe começou a lecionar no Ensino Público nos anos 60. Hoje aposentada, conversamos sobre o caos que vive a Educação. A principal observação que ela me faz é que o nível de conhecimento e instrução das famílias e dos professores tem tornado a escola num ambiente de tamanha pobreza cultural que qualquer melhora que se consiga já é considerado lucro. A carreira de professor é uma das mais desvalorizadas, basta ver o perfil dos jovens que procuram a carreira, a escola se tornou depósito e palco para os conflitos e mazelas de uma infância e juventude que não sabe o significado de família, religião, conhecimento e futuro. A falta de perspectivas faz da escola um cenário de guerra, de um lado os professores desprepardos, desorientados, mal remunerados, acreditando em milagres pedagógicos capazes de num passe de mágica solucionar uma questão tão complexa, de outro uma geração de abandonados, vítimas da ignorância e de valores deturpados de uma sociedade de consumo onde se previlegia o "ter", aliás o celular com câmera digital não pode faltar nesta faixa social. Nesta guerra não exite mocinho e bandido, todos são vítimas. Nós também.
A pergunta é: Quem vai dar o tiro de misericórdia nas vítimas agonizantes? Seriam os economistas?
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João Batista Freire
em 11 de Agosto de 2009 às 11:29.
Desculpem minha impaciência, mas, depois do que aconteceu com a economia nessa crise global, acho que nem de economia eu aceitaria palpipe de economistas. Terão que fazer muita coisa boa para recuperar o prestígio. Resumindo: economistas não são melhor em economia que professores em educação. O desastre que produziram é maior que o desastre que os professores produziram. Precisamos, sim, é prestigiar os professores; com o que ganham, com as condições em que trabalham, como fazer melhor? O Brasil nunca teve um plano sério para a educação.
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Camila de Lima Medeiros
em 11 de Agosto de 2009 às 16:25.
Palmas!!! clap, clap, clap, clap, clap...
Adorei as exposições!! Valeu pelo conteúdo!!
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Bruno Gonçalves Lippi
em 14 de Agosto de 2009 às 19:21.
Em termos de políticas educacionais, o Brasil vive uma inconstância. Não devido a uma alternância democrática, o que seria saudável, mas por conta das políticas sociais não serem prioridade. Como sou de São Paulo, vou dar um exemplo da rede estadual, o partido que governa é o mesmo desde 1995, de lá para cá, houve uma infinidade de planos "salvadores da pátria", como se houvesse a possibilidade de alguém no seu escritório ter uma ideia genial para resolver os problemas. Quando será que os gestores das SE ouvirão os professores e a comunidade escolar?
Mas vale a pena trazer alguns dados: o Chile investe duas vezes mais dinheiro que o Brasil na educação, os EUA investe 11 vezes.
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João Batista Freire
em 16 de Agosto de 2009 às 19:29.
Quem sabe um dia tenhamos um governo federal que produza, pelo menos, um plano sério de educação. É brincadeira ver que nunca tivemos isso.
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Joziane Teixeira Santos
em 22 de Agosto de 2009 às 00:06.
Quem sabe um dia o governo se lembre que os novos profissionais que estão entrando no mercado precisam de um novo estímulo para realizarem um trabalho satisfatório. Oportunizar o conhecimento hoje em dia está muito difícil, se os alunos de hoje perceberem com clareza a grande angústia dos professores quanto à profissão, ficará ainda mais difícil de se trabalhar.
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Roberto Affonso Pimentel
em 11 de Setembro de 2009 às 16:54.
Prezados Professores,
Boas ideias...
O Laboratório de Pesquisas da IBM, em Almaden, Califórnia, testou e gostou: abriu um espaço no seu restaurante, em que o almoço era grátis... desde que o funcionário se sentasse ao lado de colegas desconhecidos. O objetivo? Promover troca de informações e novas idéias. É uma idéia.
Professor da Universidade de Évora, em Portugal, o indiano Soumodip Sarkar, doutor em economia, esteve na “Mostra sobre gestão do conhecimento e inovação”, na PUC-Rio. Deu destaque às características da inovação na Índia e no Brasil. Para ele, o estímulo à criatividade e a falta dele são as razões do sucesso de um e das mazelas do outro. Como o Brasil pode melhorar?
- É preciso estimular a criatividade tanto no ensino fundamental quanto na iniciativa privada. Outra medida é transformar as universidades em incentivadoras e empresas conceituais, as spin-offs. Leva tempo: os resultados vêm em 20 anos.
Como o diálogo nos enriquece! Temos questões e implicações variadas e não devemos desprezar nenhuma delas no trato relativo à Educação. Há milhões de brasileirinhos esperando por nós e nossos primeiros passos em sua direção. Se ficarmos esperando... "a banda já passou" e nada fizemos.
Estou a frequentar diversas Comunidades deste CEV. Entrei pela porta do Vôlei e propus diálogos sobre a Iniciação Esportiva. Vejam que consignei Esportiva e não "ao Voleibol", indicando que podemos descortinar metodologias comuns ao ensino de qualquer desporto. Tenho experiências históricas sobre o assunto. Logo a seguir, propus comentários sobre a "Iniciação ao Voleibol" e "O Bom Professor". Peço que façam uma visita e tomem conhecimento do que estamos tratando. Gostaria que ouvir suas opiniões e sugestões. Transcrevo parte de um texto do Arlindo Lopes Corrêa, que foi presidente do MOBRAL durante sete anos e um dos maiores especialistas em Educação no Brasil:
"Uma interessante discussão educacional está sendo travada nos Estados Unidos da América. A questão central é se os professores devem ser pagos de acordo com os graus acadêmicos obtidos e aumentados em função dos cursos que completarem posteriormente ou se sua remuneração deve ser função também - ou até principalmente - dos resultados escolares obtidos pelos seus alunos. A administração Obama se inclina por privilegiar a performance dos estudantes como parâmetro de valorização dos mestres. A tradição em educação é pagar com base em ’treinamento e experiência’ que são, porém, indicadores débeis da eficiência, eficácia e efetividade do sistema escolar. Há argumentos dos dois lados a considerar. Katherine Merseth, que dirige a Harvard Graduate School of Education, afirma que nos EEUU apenas 100 dos 1.300 programas de treinamento de professores fazem um bom trabalho e que os restantes deveriam ser fechados. Por outro lado, a ’burocracia’, sempre apegada rigidamente às ’regras’, prefere contratar um docente medíocre com muitos diplomas do que um candidato brilhante, mas sem os cursos considerados ’adequados’. Além disso, qualquer professor sempre argumentará que o binômio ensino-aprendizado não é coerente, pois o mestre pode ser muito bom mas o aluno não corresponder (e vice-versa). Autoridades e educadores brasileiros deveriam acompanhar atentamente essa discussão..."
Parece que sabemos todos o que fazer. O problema é colocar em prática.
Creio que não devemos esperar por ninguém. Cada um deve fazer sua parte e não se deixar ficar na janela, como a moça da doce canção de lamento de Chico Buarque : "O tempo passou na janela – só Carolina não viu”, .
"O tempo – afirmou Heráclito – é um jovem a brincar. Às vezes, nos seus jogos, gosta de se divertir, sobretudo com a esfera emotiva, criando poesia, música e arte. (...) O importante é que cada homem saiba brincar com o tempo que brinca, de modo criativo, sem se esquivar aos seus dons".
Minhas propostas são de caráter prático e poderão saber mais visitando as comunidades que frequento (12, e agora, 13 ou 15, já me perdi...).
Roberto Pimentel.
Por
Cláudia Bergo
em 12 de Setembro de 2009 às 14:26.
Roberto e colegas
Acho impressionante como a escola, instituição de construção de conhecimento, é a que menos aprende. Até escrevi sobre isso em http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/905.
Afirmo isso baseando-me em meus 16 anos de experiência em instituições escolares contra mais de 20 em instituições de variados segmentos do mercado, do 1º e 2º setores.
Vou citar apenas um dos vários autores da Ciência da Informação que me instigaram a refletir mais a esse respeito: Thomas H. Davenport.
Nas três obras dele que li (ecologia da informação, conhecimento empresarial e economia da atenção), inúmeros casos de iniciativas em empresas para promover o diálogo, a troca espontânea de informações, buscando a construção de conhecimento.
O que ocorre nas escolas? Professores remunerados por horas-aula, cujos raros momentos de encontro coletivo se dão no recreio (que não é remunerado) e cujo tempo mal é suficiente para o professor satisfazer suas necessidades fisiológicas.
A gestão da escola ou é permissiva – política a lá Abi Ackel (aos amigos a ajuda e aos inimigos a lei) – ou autoritária (manda quem pode, obedece quem tem juízo), raramente democrática.
Cargos extremamente importantes para alavancar a construção do conhecimento – coordenação, assistência e assessoria pedagógicas – são preenchidos por critérios dos mais variados, que via de regra não são a competência do profissional em aglutinar pessoas, alinhavar ações, promover debates etc e tal.
As atividades de formação em serviço são medíocres e, portanto, emburrecedoras, geralmente. Apregoa-se uma pedagogia transformadora e age-se de modo tecnicista: faça o que eu digo e não o que faço.
Secretarias de educação de administrações municipais de esquerda (pasmem!) são tayloristas em sua relação com os trabalhadores de ensino.
Ou seja, a educação apregoa a busca do conhecimento, mas ela própria não o faz. Encerra-se em si mesma, não interage com outras áreas em busca de teorias que melhor esclareçam suas dificuldades e limitações.
Tenho a triste sensação de que as escolas estão mais burras hoje do que há 30 anos atrás, embora tenhamos construído tantas "receitas" de aprendizagem.
Por
Ana Lucia de Araújo
em 12 de Setembro de 2009 às 22:19.
Claúdia,
Fiquei condoída com tanto sofrimento diante do que foi posto nesse desabafo:
“[...] a educação apregoa a busca do conhecimento, mas ela própria não o faz. Encerra-se em si mesma, não interage com outras áreas em busca de teorias que melhor esclareçam suas dificuldades e limitações.
[...] Tenho a triste sensação de que as escolas estão mais burras hoje do que há 30 anos atrás, embora tenhamos construído tantas "receitas" de aprendizagem”.
Quem promove os movimentos educacionais, não somos nós?
Quem conduz esse processo, não somos nós?
Então, o que eu estou fazendo para mudar essa realidade?
Estou esperando que algum governante enviado por Alá o faça?
Diante do que vivi em escolas públicas e privadas no interior do estado e na sua própria capital onde moro, que vão 24 anos, creio que as escolas não estão mais burras. Muito pelo contrário. As escolas conseguem identificar suas demandas e mobilizam suas potencialidades. É histórico a negação do acesso à cultural para as classes sociais menos favorecidas.
A princípio essa discussão ficava no campo da crítica, hoje, o discurso está mais perto do chão da escola. Estamos mobilizados para continuar e ampliar a nossa formação inicial. No entanto, essa mobilização ainda é tímida, não será suficiente para resgatar um déficit educacional secular.
Muita água ainda rolará por debaixo desta ponte porque a ordem do discurso continua na busca do culpado do insucesso da escola.
Por
Ana Lucia de Araújo
em 12 de Setembro de 2009 às 22:31.
"Professores brasileiros precisam aprender a ensinar".
Neste discursar o professor sempre foi um bode espiatório.Pelo que está posto nesse debate, não é só os profissionais de educação que trilham caminhos tortuosos.
A questão não seria:"Professores brasileiros precisam aprender a viver bem?"
Entenda por "viver bem", viver suas alegrias, suas angústias, mas, sonhar e acreditar no seu fazer pedagógico. Respeitar e ser respeitado. E, o sistema educacional aplicar uma política justa.
Receitas seguidas à risca não tem o mesmo resultado para todos que as executam. Cada um acrescenta um elemento novo ou substitui outro. Mas, cada praticante da mesma receita tem uma história diferente para contar.
Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.