Cevnautas,
   Confesso que fiquei um pouco desanimado quando, numa quarta-feira à noite, antes de entrar em aula, o professor confessou: hoje vou trabalhar com o segundo ano de educação física: Marx, Hegel, Freud e Ortega y Gasset. Só tem uma aula pra isso, mas os alunos não têm o hábito de ler mesmo.

  Alguém tem um programa de Filosofia que caiba no curso de Educação Física?

   Laércio

Comentários

Por Gabriel Vargas
em 18 de Fevereiro de 2011 às 22:48.

Visões simplistas e preconceitos geram barreiras e mal-entendidos (ou apenas "misconcepções") que às vezes pairam diante de determinadas coisas. Conhecer o que realmente é a Filosofia é gratificante na mesma proporção em que se exige esforço para sua compreensão. Imagino a reação dos alunos quando o professor apresenta o conteúdo da aula: "Filosofia". Não é só falta do hábito da leitura. É um hábito preguiçoso sobre ampliar o conhecimento. 

Por Guilherme Borges Pacheco Pereira
em 19 de Fevereiro de 2011 às 09:50.

Prezados,

Estou longe de conhecer filosofia, mas quero opinar. Em primeiro lugar, entre jovens, ou boa parte deles, a leitura está perdendo espaço para outras atividades. Pode-se dizer, até, que a leitura nunca teve um bom espaço entre nós. Mas de qualquer forma, este espaço está muito mais reduzido hoje do que em passado recente. Tem sido difícil para a leitura disputar espaços com as mídias imagéticas e com interesses, digamos, mais imediatos. Mal sabe o estudante, que o pensamento lógico e questionador o alçará a patamares acima do senso comum. É o que se espera de uma profissão universitária, avançar intelectualmente. A bem dizer, todas as profissões universitárias são, por princípio, intelectuais.  

Mas o problema é como fazer o estudante ler e compreender o básico da filosofia. Como ajudá-lo a distinguir modelos de pensamento, visões de mundo e correntes filosóficas? E como contribuir para que o estudante estabeleça relações entre a filosofia e a sua prática? Talvez seja por aí que devamos começar. Do pensamento concreto ao pensamento abstrato. Alexandre Vaz, no seu texto Treinar o corpo para dominar a natureza, nos apresenta um recorte filosófico com relação imediata com a educação física. O texto é longo, talvez um pouco pesado para estudantes iniciantes, mas é um bom começo. Trabalhando com este texto há algum tempo, provoquei a leitura a partir de um subtítulo do próprio texto: Esporte: treinar o corpo e acelerar a morte. O resultado foi o desejado, leram (nem todos, mas muitos) e debateram, todos. Temos outros exemplos, como o texto do Lovisolo que questiona o mito da cooperação (mito, palavra minha) e reposiciona o valor a competição no contexto esportivo (está no livreto da Carvana do Esporte - INDESP, de 1998 ou 1999, acho).

Não vou me alongar tanto, mas aqui na UGF, resolvemos descolar os rótulo "filosofia" e "sociologia" para nomes de disciplinas mais palatáveis ao aluno neófito. E ao contrário do costumeiro, invertemos a ordem do conhecimento tradicional. Em currículos conservadores, os "fundamentos" estão no início, em nosso currículo, a área ciências humanas e sociais se inicia no 3o. período, percorrendo o curso até o último período, em diferentes disciplinas, todas elas identificadas com etiquetas que as relacioanm com a educação física. Não é uma maravilha, mas nunca mais escutei de nenhum aluno a pergunta "pra que filosofia?"

Saudações,

Guilherme

Em tempo - A resposta que tive na hora para aquele aluno foi: Filosofia? para isso mesmo, para questionar. Você está filosofando.


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