Aproveitando a discussão do prof. Vagner, e sabendo que este assunto já foi muito debatido e muito discutido, mas crendo que ainda há muito para se conversar, gostaria de propor esta discussão, pois tenho ficado incomodado, principalmente após ler o livro Código do Talento. Talento, nós formamos ou detectamos ?

Eu acredito que o professor de ed. Física tem uma atuação mais global; antes de detectar talentos ou mesmo forma-los, seus objetivos tem que estar sim focados em formar cidadãos que saibam buscar e manter com prazer, qualidade de vida e boa saúde.
Tenho visto na literatura e ao longo de 25 anos de experiência, hoje, adultos traumatizados com a Ed. Física escolar, tendo ojeriza por qualquer exercício físico, creio que vítimas de maus profissionais que, equivocadamente, estavam mais preocupados com o “gesto motor” do que com a saúde de seus alunos.
Dentro deste contexto todo creio que o profissional de Ed. Física pode e deve detectar talento natural, não creio em formação de talentos, creio que lapidamos diamantes, às vezes nos apresentam brutos e sem forma, após a lapidação dá-nos a impressão que formamos este diamante, mas na realidade polimos aquilo que já era natural.

Contrariando os conceitos do livro citado acima, creio veemente que talentos se detecta, se descobre, para mim desenvolver habilidades não pode se confundir com lapidação de talentos.

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 16 de Novembro de 2011 às 18:08.

Professor Enio, 

Talento, nós formamos ou detectamos?  Mas o que é talento?

Antes de responder à sua questão, e tendo em vista que li e reli a obra de Daniel Coyle, creio que devemos colocar para os demais colegas que possivelmente ainda não tiveram contato com o autor (a edição estaria esgotada) o conceito do que seja talento. No rodapé da página 21, está consignado como ele conceitua o termo: "À palavra talento muitas vezes se atribui um sentido vago e repleto de conotações igualmente imprecisas, sobretudo em se tratando de jovens - a pesquisa mostra que ser um prodígio não é um indicador confiável de sucesso duradouro. Em nome da clareza, definamos talento em sentido estrito: a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico". E continua, em tom de bom humor, "que me desculpem os jóqueis e os jogadores de futebol americano encarregados de interceptar os oponentes".

Na orelha pode-se descortinar todo o resumo desse trabalho: "Todos somos vencedores e talentosos, o segredo é praticar da forma certa!" E a obra nos ensina como. O que depreendo do livro é que ele acentua e propugna uma melhor qualidade no ensino em qualquer área do conhecimento - música, teatro, esportes, ciências, letras, arte - e nos dá a oportunidade de aquilatar o que neuro cientistas descobriram e ele pode constatar em suas andanças pelo mundo, inclusive aqui no Brasil, na área de sua atuação, o futebol e futebol de salão (ver pág.25 e seguintes, "Como o Brasil produz tantos grandes jogadores"?)

Pelos seus dizeres, parece não ter entendido que a teoria do "Treinamento Profundo" por ele defendida confunde-se com o que seriam as aulas com qualidade e um propósito bem definidos que levem o jovem a se desenvolver naquilo que ele próprio escolheu para si. E, como tal, é um programa que qualquer professor pode desenvolver e aplicável à vida pessoal, aos negócios etc. É como enfatizam, um estudo fascinante que amplia excelentes formas de aprendizado. Em outras palavras, uma metodologia calcada na mielina.

Estarei postando em www.procrie.com.br/ algumas experiências a este respeito. Devo dizer que, mesmo sem conhecer a teoria, por pura intuição, exercitei-me nos estudos - matemática e português - e no voleibol da forma que ele defende. E, sem falsa modéstia, dei-me muito bem! Recomendo àqueles que almejam qualidade em seu labor que leiam e releiam o excelente livro. Foi muito bom você ter colocado o tema e espero ter contribuído para o debate e peço desculpas por ter-me alongado, pois o tema é extraordinário. Ele nos leva a uma outra questão: "o que vem a ser um bom professor"?

Por Enio Ferreira de Oliveira
em 16 de Novembro de 2011 às 21:20.

Obrigado prof Roberto, sua resposta é sim de uma contribuição importantissima, eu li este livro emprestado de um amigo, tenho procurado para comprar ainda não o achei. Esta mesma dicussão coloquei no meu blog e gostaria muito de sua contribuição, se for possivel, temos tido lá, com vários professores, um excelente debate. Meu blog é: http://enioferreira-futsal.blogspot.com/2011/11/talento-formar-ou-detectar.html#idc-container .

Obrigado

Por Lucas Vieira Santos
em 18 de Novembro de 2011 às 14:23.

Caros professores, uma boa a tarde a todos... Bom, não tenho a mesma experiencia que os senhores, pois me comparando a experiencia do professor Enio de 25 anos, em idade tenho apenas um ano a mais, gostaria de dar minha humilde opinião. Entendo que os talentos existam em todos nós. E que pessoas que não detém um determinado dom podem sim vir a desenvolver uma grande habilidade em determinada função se a ela for ensinada de maneira correta. Acredito que os talentos de nossos jogadores são especialmente aflorados devido a forma como o futebol e futsal são vivenciados em nosso país. Crescemos jogando na rua, no recreio, com bola de plastico, de couro, eu jogava até com latinha de refrigerante. O jogador brasileiro é estimulado desde muito cedo, acumulando uma gama de experencias enorme talvez daí o nosso elevado nível técnico. Quanto a traumas passados na educação física, entendo que em parte é culpa de maus profissionais, mas também entendo que a EFI seja uma area de pesquisa nova e que sofreu mta influencia das politicas sociais vigentes nas épocas passadas nao creditando toda cculpa aos professores da época. Por fim, gostaria de deixar claro que acredito que todos podem ser bons em algo, com mais ou menos dificuldade... Para os genios as coisas apenas acontecem mais naturalmente do que para nós os esforçados... Grande abraço!

Por Roberto Affonso Pimentel
em 18 de Novembro de 2011 às 17:44.

Devo informar aos participantes do debate que fiz uma visita ao site do prof. Enio e lá deixei impressas algumas considerações, especialmente no que se refere ao valor da obra citada, "O código do talento". Agora, surge um comentário muito interessante do prof. Lucas: (...) E que pessoas que não detém um determinado dom podem sim vir a desenvolver uma grande habilidade em determinada função se a ela for ensinada de maneira correta. 

Nesta acepção, quer me parecer que talento (que chamou dom) e habilidade se confundem e, então, passível de ser desenvolvido (podem vir a desenvolver...). E continua: (...) em determinada função (que poderíamos dizer para maior clareza, direção, escolha). Entendo que uma escolha do indivíduo para desenvolver uma determinada habilidade está relacionada com o seu objetivo em aprender algo, como matemática, tocar piano, jogar tênis, pintar, cantar etc. Acrescenta ainda uma condição: se for ensinada corretamente. Lembro que terminei meus comentários (ver acima) com a pergunta: "O que vem a ser um bom professor"? Posto que para ensinar corretamente, somente um professor experiente e capaz.

Felizmente, temos no Brasil muitos bons professores, que irradiam saber e cultura, cativando os jovens e tornando os caminhos da educação menos tortuosos àqueles que chegam ao mercado de trabalho. Ocorre que as formas de ensinar - os métodos - podem não ser os mesmos, o que os diferencia aos olhos menos atentos. Apenas seguem caminhos diferenciados para alcançarem o mesmo objetivo. Além disso, o carisma que possam despertar no outro, a pedagogia, seus sentimentos em relação aos jóvens e à profissão, ampliam essas diferenças, ainda mais quando sabemos todos que Ensinar é uma Arte. Assim, é importante que cada professor esteja convencido e sempre busque cada vez mais aprimorar-se nessa difícil arte.

Coyle nos propõe reexaminar o processo do treinamento que ele denomina profundo, graças às suas pesquisas, leituras, buscas, viagens pelo mundo. Suas conclusões não são verdades absolutas, mas nos impelem a pensar e a também pesquisar, uma vez que sabemos nada é definitivo em matéria de Educação. O treinamento profundo não se diferencia do treinamento superficial na percepção de quem os realiza; esta seria enganosa, ou uma "ilusão de competência". O treinamento profundo tem como um de seus princípios a aprendizagem situada no "ponto ideal" (correto), isto é, no limite de sua capacidade, de maneira que force o indivíduo a disparar seus circuitos neurais adequados.

Como criar a habilidade em alguém? O indivíduo já nasce com ela ou é passível de ser ensinada e desenvolvida?  E mais: Como ensinar a desenvolver uma habilidade específica?  Finalmente: Como estabelecer o "ponto ideal" da aprendizagem? (conceitualizada por Vygotsky nos anos 1920 como zona de desenvolvimento proximal). Essas e outras questões poderão ser discutidas em http://prezi.com/nhuhq5t7coh/procrie/ e em www.procrie.com.br/ 

Estarei aguardando-os com especial carinho. 

Por Enio Ferreira de Oliveira
em 18 de Novembro de 2011 às 22:31.

professor Roberto

Muito obrigado por sua participação no meu blog, tenha certeza que nos enriqueceu muito com suas considerações. Estive lendo uns textos no site recomendado por vc, www.procrie.com.br, e pude constatar o excelente nível e com certeza passo a ser um assiduo frequentador.

Uma dúvida, eu citando a fonte e o autor, é possível transcrever alguns textos no meu blog? Se isto for possível, sempre que o fizer lhe informarei.

Vou recomendar a todos amigos que verdadeiramente se interessam por crescer na profissão de educador.

abr.

Enio

Por Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Novembro de 2011 às 08:49.

Prezados jovens,

Imbuí-me de uma missão (www.procrie.com.br/quemfaz/) cuja ferramenta imprescindível é a web. Desde que me aposentei (1991), sempre manifestei meu desejo de conversar com novos professores sobre a Arte de Ensinar, buscando oferecer-lhes mais alternativas para suas ações. Não encontrei eco na minha cidade, Niterói, confirmando-se o aforismo "ninguém é profeta na sua própria terra". Ocorre que, dois anos depois de lançar o Procrie na internet, ocorreu uma espetacular mudança comportamental entre os meus pares niteroienses, pois já formam um grande contingente de visitantes. Que bom! A esse respeito, vejam o texto intitulado "O Professor e o Missionário". Passarão a entender que estou aqui para servi-los no que me for possível. É claro que tenho demasiadas limitações, mas nada me assusta quando se trata de poder contribuir com uma palavra ou mesmo o meu silêncio respeitoso diante da fala de alguém. Quero estar próximo de todos.

Sintam-se à vontade para usufruírem a melhor maneira que lhes aprouver desses escritos, muitas vezes sem muita valia, mas que encerram profundo sentimento de generosidade e carinho com a missão de ensinar a outrem. Só recomendo que tenham o cuidado de aprender interpretar e criticar as ideias dispersas entre tantas linhas. Assim, para uma análise do que vimos realizando, sugiro uma viagem pelos títulos do Novo Sumário, com uma sinopse das postagens. Sei que é muita coisa, mas vocês podem se programar e fazer um pit stop para, em outro dia, recomeçar a caminhada. Ter uma visão global do Procrie é recomendável, pois terá mais confiança (ou não) no autor. É o que se deve ensinar às crianças quando tomam da prateleira um livro desconhecido: examinem o sumário e, se houver a orelha, os comentários sobre a obra e o autor.

De futuro, certamente gostaria de saber de que forma soam aos seus ouvidos as mensagens registradas e, mais ainda, como poderia auxiliá-los nos seus trabalhos diários e planos de vida. Assim, qualquer manifestação no site, não importa o seu teor, é enriquecedora e cativante para o autor. Sem os comentários, cria-se um vazio muito grande e às vezes, desconcertante, pois sobrevém a indagação: "Será que estou agradando"? Ou, ainda, "de que precisam os novos professores"? 

Vocês são o motivo de eu estar por aqui. Agradeço por me confiarem o seu reconhecimento na Arte de Servir ao próximo. Até ao Procrie.


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