O meu Bom José, cronista esportivo, jornalista excepcional, viciado em Maranhão, posto que cearense (?) – é daqueles que por descuido geográfico, maranhense que nasceu em alhures… vez por outra me brinca com uma belíssima cronica – esta é a do Natal deste ano, presente que divido com todos:
A bola, e os craques (e o homem) sem o crack
(Por José de Oliveira Ramos)
A bola de molambos toma o lugar do crack – aprendam isso, governantes!
– Par ou ímpar!?
– Par!
– Dois teu, com três meu. Ímpar! Ganhei.
– Tiro o Cotôco!
– O Cotôco era o meu preferido, mas tiro o Gabão.
– Eu tiro o Nato,
– Eu fico com o Dadá!
Era assim, todas as tardes, que começava a pelada no campinho de terra batida, sem qualquer marcação. Os traves, uns gravetos ou camisas e chinelos. Não tinha Árbitro nem placar e ganhava quem fizesse mais gol quando a claridade se transformasse numa escuridão que não permitia mais ver a bola – na verdade, um amontoado de molambos envolvendo uma bola de borracha da marca Mercur. A envoltura com molambos era para evitar que “ardesse” nas costas, principalmente quando estivesse chovendo.
Era ali, naquele campinho, que nasciam os craques e se ficava muito longe do crack. Os gestores – que certamente nunca viveram esse tempo – precisam saber disso como caminho mais curto para acabar com a violência entre os jovens e a preferência pelas drogas. Droga é coisa de desocupado – de quem não tem sequer um espaço para jogar bola.
E, se o governo não olhar para isso, começa a ser rotulado como conivente ou parceiro de quem trafica – é só o que se pode pensar de quem não faz nada para tirar a meninada do ócio e da droga. O craque não aceita o crack.
Hideraldo Luís Belini
Quem já conseguiu olhar alguma foto das mãos do ex-goleiro Manga, vai ver que, todos os dez dedos são quebrados. Quebrados pelas bolas. Nos tempos em que Manga jogava, não havia luvas, os jogadores realmente chutavam forte, e a bola era de couro. Couro de vaca.
Nessa foto que postei, do zagueiro Belini, o sangramento não foi cotovelada, como acontece hoje. Foi uma bolada. Foi num jogo do Vasco da Gama contra o Palmeiras e o chute foi de Jair da Rosa Pinto.
A bola de couro, quando ficava molhada, aumentava de peso. Ficava difícil para qualquer goleiro pegar e segurar. Mas, Manga, Barbosa, Castilho, Harry Carey, Garcia a pegavam e seguravam. Nem dá para imaginar a violência e a força de um chute desferido por Jair da Rosa Pinto, Rivelino, BCC, Quarentinha, Nelinho, Antonino, Mesquita.
Agora, imagine você, com essa bola de couro, alguém conseguir dá-lhe curvas e efeitos como fazia Didi, o inventor da folha-seca. Um Mestre no bater na bola para que elas fizessem as curvas que ele queria.
Didi no Botafogo
A bola – A bola é um instrumento de lazer. Quem a inventou não era um gênio nem tem reconhecimento, porque isso nunca foi projeto de governo algum e provavelmente é por conta disso que os governantes do mundo inteiro nunca lhe deram a devida atenção e valor.
A bola não é apenas um elemento de socialização porque em torno dela se reúnem crianças, jovens, adultos e idosos. É algo que agrega pessoas em torno de si própria. É um dos mais fortes instrumentos de combate à violência, por que ocupa o espaço do ócio.
A bola é um forte repelente às drogas – é necessário que governantes entendam isso e propiciem muito mais espaços para a prática do futebol. Principalmente o futebol desorganizado que todos pratiquem por gostar e jamais por obrigação.
Mas, como seria bom se voltassem os tempos da bola de couro. Couro de vaca. Correndo firme e rasteira pela grama dos campos da vida.
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